- Paradoxo
Contos de Sigulf
04/05/13, 06:43 pm
Sigulf é um exímio guerreiro conhecido por toda Winterheim pelos seus feitos, alguns bons e outros não tanto. Aqui irei contar algumas de suas histórias, que resultaram em sua lenda. As histórias são soltas, algumas podem ser contadas pelo personagem, outras por um terceiro e até mesmo algumas podem ser contadas por um narrador externo.
- Capítulo 1 - Sigulf, o Matador-de-Gigantes:
- Cumprimentou o Anão que havia se apresentado, retribuindo a boa disposição dele e de qualquer outro que se pegasse ouvindo a sua conversa com sorrisos e bastante bebida. Havia feito um acordo com os donos de tavernas da região, quando contasse a sua história, as duas primeiras bebidas de cada ouvinte seria por sua conta. Era uma forma de prender a atenção de todos e de demonstrar que ele era um Jarl generoso, precisaria que os homens confiassem nele e soubessem que tinham muito ao ganhar ao seu lado. Observou os presentes, notando o gigante Ivor e o gritou.
– Você, que tem sangue de gigante, me acompanhe em minha história e beba comigo!– Serviu mais dois canecos de hidromel, um para ele e outro para o gigante. – Pois bem, vamos a história...
Bebeu mais um gole e começou a contar.
– Já fazem quase vinte anos que isso aconteceu, eu ainda era conhecido em Winterheim como o Jarl desaparecido, pois havia passado grande parte dos dez anos anteriores, desde que havia abandonado minhas terras e a minha família, vivendo com o clã de Björn Sangue-de-Fenrir. Björn é o maior guerreiro Æsir que Winterheim tem vivo e se engana quem pensa que ele é feito apenas de fúria e sangue. O seu povo tem um canal com os deuses que eu não vi em nenhum outro lugar, nem em Winterheim, nem em Valeyheim. Foram eles que me deram "Presa de Lobo" e ela foi feita, assim como muitas outras armas deles, do canino gigante de Fenrir que fora dado ao seu povo. – Enquanto dizia isso, levou a mão ao cabo da adaga, como se retornasse as memórias ao momento em que a recebeu de presente.
– Porém, para os Berserkers, qualquer presente deve ser pago com outro presente¹ e meu orgulho me dizia que eu deveria buscar algo único e especial para aquele povo. Me consultei com o Eldri² dos Berserkers e ele me disse o que deveria fazer. Subi, sozinho, em um barco rústico e mal construído, me lançando ao mar e esperando que Njörd me guiasse ao meu destino, como dissera o Eldri. E assim, o deus dos mares fez, me levando em ondas gigantes até uma terra longínqua, que mais tarde eu descobriria se tratar de Jötunheimr. – Fez uma pausa, para beber mais cerveja e retornou a história.
– Ao chegar, fui atacado por um gigante que, depois, descobri tratar-se apenas de um jovem. Mas, a visão de tamanha criatura me aterrorizou. E ele estava tão espantado quanto eu, mas devido a nossa diferença de tamanho, não se intimidou e tentou avançar para cima de mim. Ele tinha aproximadamente o triplo do meu tamanho, mas não me intimidei. O combate foi árduo, as poucas vezes que o gigante me acertara deixaram meu corpo muito ferido e as diversas vezes que o acertei, mais se pareciam com arranhões. Porém, acertei o seu rosto em um momento em que ele se abaixou para tentar me pegar em uma caverna, arrancando-lhe o olho direito. Assim como qualquer criatura viva, ele gritou de dor, mas vocês não podem imaginar o quão poderoso foi aquele urro, parecia que eu estava assistindo ao poderoso Thor destruir o mundo com seu Mjölnir. O barulho foi tamanho, que o pai do gigante surgiu ali, era... como pode-se esperar, o próprio Útgarða-Loki. E ele não estava sozinho.
– Mas, eu não estava desprevenido e me coloquei em uma posição de negociar. Agarrei os cabelos do jovem Vafþrandr e coloquei minha faca em seu pescoço, podendo matá-lo com um breve movimento. Aquilo assombrou Útgarða-Loki, que avançou contra mim em desespero, porém se conteve ao notar que o pescoço do seu filho começava a sangrar. Depois de me ameaçar, esbravejar com ódio e narrar de forma detalhada como ele devoraria a minha carne, limparia seus dentes com minhas costelas e tomaria o meu sangue, ele resolveu se apresentar. Fiz o mesmo. Expliquei tudo e negociamos a vida de seu filho.
– Ele não pretendia me soltar, mas também não podia me matar. Ele tinha uma dívida de sangue comigo e isso era realmente precioso para ele. Passei alguns dias na companhia dos Jotuns, como uma espécie de hospede mal-visto. Porém, alguns dias foram o suficiente para conseguir o respeito das criaturas e aprender como eles viviam, seus hábitos, sua estrutura familiar e principalmente a sua forma de combate. Em uma bebedeira com as criaturas, acabei tomando uma decisão que poderia ter me custado a vida, aceitei o desafio de Útgarða-Loki e disse que enfrentaria um de seus guerreiros em combate-singular. Eu teria um ano para me preparar.
– O treinamento foi longo e árduo, por muitas vezes achei que morreria antes mesmo da batalha. Mas, nessa época, minha força e resistência cresceram além de tudo que eu poderia esperar. O dia da batalha chegou e por pouco, muito pouco, eu saí vencedor. Alguns dos Jotuns insistem em dizer que Gerðrlöng só foi derrotado por ter escorregado na mistura de seu próprio sangue e do gelo que se formava naquela época do ano. Isso não importa, depois das lutas, só uma coisa importa: existe um vencedor e um morto. Eu fui o vencedor.
– Como havia surpreendido a todos e vencido a batalha que ninguém pensou que eu fosse capaz de vencer, Útgarða-Loki me levou até seu ferreiro e pediu que me mostrasse o metal que eles haviam encontrado em uma embarcação de Svartálfar, os Elfos Escuros, que havia naufragado. O metal era claro e muito díficil de se trabalhar, mas finalmente o ferreiro de Utgard conseguiu moldar o material através do uso de sangue. E, como suas mãos gigantescas não permitiriam a ele forjar uma arma para meu tamanho. Então ele me ensinou a trabalhar o metal e eu mesmo forjei Sprättuvejr, usando meu próprio sangue em sua composição.
– Essa é a história dessa espada, a chamei de “Tormenta de Sangue” diante da situação em que a consegui, pois havia realmente uma chuva de sangue naquela batalha e depois eu tive de banhá-la em meu sangue. Essa espada foi obtida pelo sangue, foi forjada em sangue e já se banhou em muito sangue depois disso. – Disse, girando a espada no ar e a colocando novamente na bainha.
---- Notas:
- ¹: Não há qualquer referência a isso na mitologia nórdica, é uma licença poética que usei para o personagem.
²: Os Eldri são os grandes sábios do povo Berserker, são os guerreiros vivos mais antigos do clã e que tem um maior contato com os espíritos naturais e as divindades.
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- Capítulo 2 - Amor, Ódio e Desespero:
Sigulf havia escutado cada uma das histórias dos seus companheiros com uma atenção especial, seus olhos brilhavam em uma cor que parecia variar do azul ao verde, como o mar em um belo dia. Ele se sentia bem, como não se sentia a muito tempo, talvez porque estivesse seguindo com o que havia planejado a tanto tempo, talvez porque tivesse encontrado companheiros bons para viajar ao seu lado, não sabia dizer, mas realmente se sentia bem. Quando chegou a sua vez, resolveu que faria algo diferente.
– Passei alguns dias na taverna Yggdrasil e contei algumas de minhas histórias, contei como conheci Bjorn, contei a Batalha da Tormenta e contei a história da minha espada Sprättuvejr. Acredito que vocês devem gostar dessas histórias, mas hoje contarei uma história diferente. Uma história de amor, morte, vingança e desespero. – Tomou um gole de hidromel, acabando com aquele corno e o servindo novamente. Já estava um pouco bêbado e, naturalmente, mais emotivo. – A história da única mulher que amei de verdade, Kari.
– Kari era a terceira filha do Jarl de Úekstalð, um reino ao Noroeste de Winterheim, próximo a Ulfgrå, terra da família da Svanna. Eu a conheci na época em que fui enviado por meu pai, como mensageiro até o pai dela, a trinte e sete invernos atrás. No caminho, eu meus homens encontramos alguns saqueadores tentando roubar uma comitiva de nobres e obviamente nós intervimos, eliminando os bandidos. Todos eles. – Fez uma pausa proposital e logo em seguida retornou a falar. – Era a comitiva do Hertogi prometido em casamento para Kari, do qual me recuso sequer a repetir o nome. Vocês podem chama-lo de Traiçoeiro, de Covarde, de Cretino, de Excremento de Porco, qualquer termo pejorativo que acharem digno da pessoa mais desprezível que esse mundo já viu. – Sigulf cuspiu na fogueira, demonstrando todo seu desprezo pelo sujeito.
– Chegamos a Úekstalð e fomos recebidos com uma festa grandiosa, onde Kari estava grandiosa, a mais bela de todas as mulheres, mais bela que a própria Freya! E eu também estava bem arrumado, no início da minha vida adulta, pois havia vivido apenas dezessete invernos. Dançamos juntos, bebemos, conversando, enquanto o desgraçado do seu noivo puxava o saco de seu pai. Foi natural, nos apaixonamos e começamos a viver um tórrido romance. Fui o primeiro homem dela e naquelas semanas que passei ali foram as melhores de minha vida. Nesse momento, eu havia conhecido o poder do amor.
– Porém, seu noivo descobriu o nosso envolvimento. E, em vez de me desafiar para um combate singular e tentar me matar em nome da sua honra, ele não fez nada. Apenas ordenou que seus guardas a escoltassem todo o tempo e me mantivessem longe, até o dia do casamento. Eu disse a vocês, eu era jovem e cheio de energia, dotado de uma coragem que beirava a estupidez e não me daria por vencido. Planejei algo maluco, que jamais poderia dar certo. Eu a roubaria no dia de seu casamento. Estava orgulhoso de minha esperteza, mas o meu rival era traiçoeiro e maligno, ele já havia planejado tudo imaginando que eu tentaria algo assim.
– Eu peguei meu rápido cavalo e a sequestrei quando ela estava sendo levada para os preparativos do dia do casamento, fugimos juntos e eu pretendia chegar até Ulfgrå, onde usaria o parentesco dos Hildegärd com os Svardstal para pedir refúgio até ter como retornar as minhas terras. Mas, no caminho, bandidos nos alcançaram e nos prenderam. Tentaram nos usar como moeda de troca para nossas famílias, afinal de contas um filho de um dos mais poderosos Jarls de Winterheim e a filha de outro Jarl de renome, juntos, valeriam uma grande fortuna.
– Nosso cativeiro durou alguns dias, eles me mantiveram afastado de Kari e sem noticia alguma dela. Porém, certo dia, em um descuido de um vigia do cativeiro, consegui escapar e descobri muitas coisas. Os bandidos eram parte do mesmo bando que eu e meus homens havíamos matado na estrada. Eles trabalhavam para o desgraçado do Hertogi e desde o começo tudo aquilo era um plano para extorquir o pai de Kari. Naquela noite, eu me banhei em sangue e muitos dos bandidos morreram sem saber ao menos o que havia lhes acertado. O ultimo, que torturei com bastante sadismo, me relevou que Kari estava sendo mantida em uma casa naquela propriedade, sobre os cuidados do próprio Hertogi. Ao chegar lá, encontrei-a desnutrida, machucada e violada... – Socou o chão, de forma violenta, demonstrando toda sua raiva.
– Meu ódio foi enorme e eu matei o desgraçado do Hertogi com as mãos nuas. Fiz questão de lhe arrancar a espada das mãos, para que ele não pudesse chegar em Valhalla. Depois de estrangulá-lo, cortei os seus membros e espalhei pelo seu quarto, pintando as paredes do vermelho do seu sangue. Nesse instante eu havia conhecido o poder do ódio.
– Ao retornar para Kari, a encontrei morta... Todas as humilhações que ela havia sofrido em seu cativeiro haviam a deixado transtornada, desesperada e insana. Ao seu ver livre, havia retirado a própria vida, para que jamais sofresse aquilo novamente... Ao tentar salvá-la, eu a havia condenado a morte. Agarrei seu corpo e ali fiquei, por alguns dias, apenas chorando e sem me mexer. Fui encontrado pelos homens do pai de Kari, que me viram abraçado ao seu corpo morto e em decomposição, totalmente desnutrido, desidratado e bem próximo da morte. Nesse instante da minha vida, eu havia conhecido o verdadeiro poder do desespero.
– Demorou algum tempo, mas retornei as minhas condições mentais normais, mas meu espirito estilhaçado jamais fora concertado. Apenas uma vez me senti completo novamente, mas essa é uma história para outro dia. – Respirou fundo e se levantou, deixando todos ali, sem dizer mais nada. Caminhou para o canto do acampamento, se isolando em seus pensamentos e memórias.
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- Capítulo 3 - A Batalha da Tormenta:
Em construção.
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- Capítulo 4 - Dias de Fúria:
Em construção.
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