- História:
- Prólogo:
Uma mulher com um jaleco e alguns papeis em mãos entra em uma sala pouco iluminada, lá dentro, um homem arrumava seu tabuleiro de xadrez em sua mesa luxuosa.
-O gás está pronto para uso senhor. Todos os testes foram concluídos com sucesso. Os dados estimam que 0,5 a 1 % das pessoas são suscetíveis aos efeitos dele.
-Perfeito! Agora você já sabe o que fazer...
-Senhor, se me permite a pergunta, não seria desperdício fazer isso? Dar algo tão grande a essas pessoas, sendo que poderia vender e ganhar milhões?
- Milhões? Não! Meu plano é maior que isso. Dê uma arma na mão de um pobre sem estruturas e sem alternativas, ele irá cometer crimes. Agora imagine essas mesmas pessoas sem estruturas com poderes a solta pelas ruas. Será um grande caos, e é ai que eu entrarei com a solução para isso tudo!
Diz o homem movendo sua primeira peça.
Meu nome é João Pedro da Silva, JP pros mais próximos. Como muitos, sou só mais um pretinho qualquer de periferia cheio de sonhos, mas também cheio de desafios pelo caminho. Nova Capital não é fácil, aqui o preconceito e a desigualdade batem forte na nossa cara, mas eu não abaixo minha cabeça não, tá ligado? Eu sou aqueles moleques criado pela vó saca? mas não esses moscão de condomínio criado a leite com pêra e nutellinha, aqui a gente rala dês de cedo. Minha mãe era meio vida loca, e foi presa quando eu era bebê, tá lá até hoje... Ai sobrou pra minha vó criar eu e minha irmã, já que nosso pai nem sabemos quem é. Dona Zefa, que Deus a tenha, era linha dura, e sempre ensinou a gente agir pelo certo. Já fazem 2 anos que ela se foi, e agora sou só eu e minha irmã, que mal vejo por sinal. Ela trampa em 2 hospitais como auxiliar de enfermagem, bagulho puxado e eu , passei a fazer entregas de lanches depois da aula. Pego minha bike e saio por ai pra ganhar meus trocados, não é muito mas ajuda. Como nem só de correria vive um homem, certa noite colei num baile funk lá no Redenção. Pancadão a céu aberto, lotado. Parecia que metade da cidade tava lá, gente de todo o tipo inclusive. E é aqui que as coisas mudaram pra mim. No meio do evento parece que rolou uma confusão, até hoje eu não sei direito. Não demorou muito até que um helicóptero da policia se aproximasse do lugar soltando umas bombas de fumaça, gás, ou sei lá o que. Uma caiu bem perto de mim, aquela fumaceira toda queimou meus pulmões na hora, mas consegui sair de lá sem me machucar. Com aquilo, o rolê acabou, e foi bizarro. Mas o mais bizarro ainda foi o que aconteceu depois, nos dias que vieram a seguir eu tava me sentindo cada vez mais forte, e tava mesmo. Conseguia erguer uma geladeira sem fazer muito esforço e tava com um pique pra subir e descer o morro correndo sem me cansar. Nessa mesma semana eu soube de vários relatos e noticias de crimes envolvendo meta humanos aqui na região. Um monte de gente aparecendo com poderes e fazendo merda por ai. Dois caras aqui da quebrada foram pegos pela policia, e eu até conhecia, tavam lá no pancadão inclusive. Foi nessa hora que o tico e teco ligou e eu somei dois mais dois e saquei, que foi naquele momento que eu ganhei meus poderes. Seja lá o que tinha naquele gás, ativou alguma coisa no DNA de algumas pessoas ali. Mas por que alguém faria isso e pra que? Com medo de arranjar encrenca e sem saber como proceder com isso tudo, eu tava na minha tentando não dar bandeira, e por um bom tempo isso deu certo, até o dia em que presenciei um assalto. Dois caras em uma moto pararam uma moça grávida. Na hora nem pensei, botei o capuz na cabeça e fui pra cima deles, não vi que um tava armado. Vacilo meu. Assim que eu cheguei o cara se virou e atirou, aquilo bateu no meu corpo, ardeu na hora,mas foi só, eu nem sabia que era a prova de balas, na hora eu fiquei puto, afundei a mão na cara do sujeito, o parça foi ligeiro, tentou correr, mas eu fui mais. Joguei a a moto, pegou em cheio no vacilão. Foi muito louco, mas ai eu percebi que tinha gente filmando eu entrei em choquem sai vazado do lugar. Bom, resumindo, o vídeo foi parar na rede. A tiazinha que gravou ficava gritando “incrível, incrível ” enquanto eu quebrava os manés. Ai meio que o vídeo viralizou na quebrada e apelido pegou. Não é o melhor codinome, mas é o que tem pra hoje. E sabe, esse lance de heroísmo, eu até achei maneiro, sei lá, parecia que eu podia ser algo a mais do que só mais um pras estatísticas, surpreender saca? Sempre esperam o pior da gente, eu queria sair da curva, fazer algo bom. Decidi montar um traje improvisado, e fiquei pela redondeza ajudando como podia. Um dia salvei uma coroa de ser atropelada, e pra minha sorte ela era costureira, chegou a trabalhar com figurino pra tv, carnaval e tals... ai ela fez esse traje pra mim. Maneiro né? Desde então eu venho tentando conciliar a escola, com meu trampo e a vida heroica. E tô só me lascando, mas quem sabe daqui um tempo as coisas não melhorem?
- Atualização:
-Bom, por onde começo? Acho que da pra ser a partir do momento que tudo desandou... Primeiro rolou aquele lance com o tal gás que me deixou malucão e fez com que eu atacasse o Pitbull e a Temporal de graça, como todo mundo sabe a coisa foi bem feia. Fui caçado, a mídia caiu matando em cima, pensei em desistir, foi foda... por sorte a mina sobreviveu, mas com grandes sequelas, que fazem eu me culpar até hoje... Mal deu tempo de me recuperar desse baque, ai veio o apagão, a “Noite do Terror”. De começo eu nem queria participar de nada, só queria ficar na minha, já tinha enterrado de vez essa parada de querer ser herói, até tinha queimado o traje ta ligado? Mas não deu pra ficar em casa sem fazer nada não. Assim que eu soube que a parada tava feia, eu sai pra rua e fiz o que tinha que fazer... Passaram alguns dias e alguns dos Benfeitores me encontraram num lugar, o grupo tava rachado, dava pra ver na cara deles, mas boa parte tava disposta em me ajudar. O Pitbull inclusive. O Chip havia conseguido umas imagens das câmeras de segurança da redondeza, foi difícil ele conseguir algo, já que o lugar é precário, mas o que ele arranjou dava pra me ajudar, e confirmava a minha versão. Já a Paradoxo me prometeu ajudar com advogados e todos os custos que eu fosse precisar pra limpar o meu nome. Não demorou muito e com a pressão da mídia e do governo, rolou um tribunal. A parada tava tensa, metade das pessoas queriam me condenar, a outra metade tava do meu lado. Eu mesmo não sabia qual seria meu fim. Por sorte naquela época ainda valia e lei de proteção a identidade, se não fosse isso geral iria saber quem eu sou, e ai sim a minha vida seria um total inferno.... Mas enfim, resumindo pra vocês, o tribunal tava tenso, a promotoria era implacável nas perguntas, eu achei que ia me ferrar de verdade. Uma hora lá o próprio Pitbull, contrariando a chefia dele, apareceu pra depor a meu favor. Mas pelas perguntas que fizeram, ele acabou se enrolando, e no fim não conseguiu me ajudar em muita coisa. Os próprios vídeos de segurança que o Chip arranjou já não valiam de muito, o negócio nem era tanto contra mim, era mais pra acabar com o lance de heróis nas ruas, vivendo sem leis e sem regras, aquilo tinha que acabar, e o meu caso foi usado como um star pra essa coisa toda.. Chegou uma hora que eu já tava sem esperança, mas pra surpresa de todos, e principalmente pra minha, no final do julgamento apareceu uma ultima testemunha . Era a própria Temporal. Ela chegou lá numa cadeira de rodas, as pessoas começaram e me olhar putas da vida, alguns atá me xingaram. Eu jurava que ela tava ali pra terminar de me massacrar, mas não. Ela me defendeu, e até confirmou a minha versão das coisas. No final, o depoimento dela foi fundamental pra minha liberdade. Sou muito grato ela... Eu fiquei um tempo fora dos holofotes, tava cogitando voltar a viver uma vida normal, mas o Seu Ayres, o Capitão 9, me convenceu de que a cidade precisava de mim, até ganhei até um uniforme novo dele. Nem maneiro, mais moderno do que o anterior. Parece que foi um estilista famosão quem fez, o cara chegou a fazer alguns trajes pra alguns dos Benfeitores originais, achei foda isso. De volta as ruas, eu tava pegando leve, tentando voltar as origens, salvando gente de incêndio, perseguindo ladrão em fuga, nada de monstro gigante ou super vilão. Foi ai que estourou aquela merda no centro da cidade, eu demorei a chegar esse dia, e até hoje me culpe. A parada foi bem feia, gente morta, gente ferida, um monte de capiroto atacando geral, fogo e destruição pra todo lado. Parecia uma batalha perdida, mas a Princesa fez a jogada final dela e acabou com tudo de uma só vez, mas isso custou a própria vida da coitada. Quando a poeira baixou, a gente percebeu que aqueles demonios bizarros que a gente arrebentou na porrada nada mais eram do que pessoas possuídas ou algo do tipo. Foi um baque em geral. No final ficou a dúvida no ar, nós que matamos eles? Todo mundo sabe que eram eles ou nós, mas no fim, quem se importa com isso? Essa foi a brecha que o sistema queria. Rápida como um raio, a lei anti supers entrou em vigor. Nem preciso dizer que o nosso grupo rachou né? Uns vazaram, outros decidiram seguir dentro do que os engravatados propuseram, e eu decidi que não ia dançar conforme a música deles e que faria as coisas do meu jeito. Nos dias que se seguiram as coisas ficaram feias. Ruas foram tomadas pela super polícia, teve protesto, morte e o caralho a quatro. Boa parte dos encapuzados com medo de algo de ruim acontecer com eles meteram o pé de NC, e foram tentar a vida em outros locais. Já Paradoxo, junto com um grupo de pessoas influentes e ricas como ela conseguiu mexer os pauzinhos pra aprovar um grupo de heróis autorizados a atuar na cidade. “A Academia dos Benfeitores” que é basicamente uma escola de super heróis, tudo regulamentado e dentro das normas que o governo determinou. Eu fui o primeiro a bater de frente com essa ideia e ir contra. Mas a maioria optou por ficar ali, como “tutores” pros novos heróis que estavam por vir. A intenção deles não era ruim, mas eu não ia aguentar viver uma vida, onde pra eu dar um passo eu precisaria de um ok de um desses burocratas. Ainda mais depois de tudo o que fizeram comigo, até hoje eu inspiro desconfiança por ai por causa do marketing negativo que jogaram nas minhas costas...
Tenho agido do meu jeito, na surdina, sem levantar muitas suspeitas, mas agora não tô mais sozinho, tem uma galera que tá colando comigo, recentemente até arranjamos um esconderijo. Não me considero líder deles nem nada, mas eles confiam em mim pra tomar a frente das coisas, e é assim que temos atuado.
A gente faz o que pode, com o pouco de recurso que tem, mas estamos sempre dispostos a ajudar aqueles que mais precisa de nós , mesmo que por ai ainda nos chamem por ai de os “Foras da Lei”....
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