[Moderador] - Sombria
15/04/15, 09:44 am
Codinome: Sombria
Nome: Carol Ferreira (Kinjanë Pari-Avii Carolina Leona Wolf y Ferrera)
Idade: 33 anos
Área de Atuação: Marechal Andrade (ZN)
VANTAGENS:
- Acrobacia: 1
- Agilidade: 2
- Arma (Yakan-Boleadeira): 2
- Bombas de Fumaça: 1
- Ciências: 1
- Combate: 2
- Traje de Combate: 1
Visual:
História:
Ao norte do Brasil, e em meio ao Oceano Atlântico, existe um arquipélago de 26 ilhas e/ou ilhéus, conhecidas hoje como o Arquipélago de Fernão, em homenagem à seu descobridor. Porém, para quem conhece a região ou a sua história, o conjunto de ilhas recebe outros nomes: Arquipélago Fantasma, Arquipélago Vermelho, ou, mais comumente, o Arquipélago da Morte. Na época da Ditadura Militar no Brasil, a região foi usada como "prisão política": jornalistas, professores e alunos de universidades, supostos comunistas, e todos aqueles que se opunham ao Governo então eram exilados, sequestrados, ou "desaparecidos" para embarcações militares que os levavam, junto a criminosos, para essas ilhas.
Numa dessas embarcações, estavam Keroline, uma estudante ativista, e sua filha de 3 anos de idade. Elas chegaram à ilha principal e foram levadas junto aos outros para grandes campos de concentração no meio da floresta, cercados por arame farpado e vigiados por homens armados - militares a mando do Governo. Presos lá, eles eram forçados a trabalhar para manter o campo, e a dormir, centenas deles, em pequenas salas com poucas janelas e camas. Não era fácil, mas Keroline conseguia cuidar de sua filha, que era o que importava. À noite, ela conversava com os outros. Não havia só brasileiros lá; haviam exilados de diversos outros países sul-americanos também (Graças a Operação Condor). Ela também ouvia histórias terríveis de presos que eram interrogados e torturados, abusos horríveis que aconteciam de vez em quando. Ela havia chegado a pouco tempo; logo seria a vez dela, ela pensava consigo mesma.
A filha de Kerol crescia cercada por pessoas cultas que pareciam querer ensiná-la tudo que sabiam - afinal, ela nunca iria à escola, e eles talvez nunca mais saíriam de lá; porém, ao redor dela, as coisas só pioravam, dia após dia. Dos barcos, ao mesmo tempo em que chegavam mais prisoneiros e guardas, chegavam menos recursos. Os guardas pareciam ficar mais nervosos a cada dia, por receberem menos e menos apoio do continente, e ouvindo histórias de criminosos que escaparam ou se rebelaram, tribo de nativos canibais, e supostos mutantes - aberrações desfiguradas de projetos falhos, também despejadas pelos governos nas ilhas; logo, eles descontavam suas frustações e inseguranças nos prisoneiros.
Pouco antes até mesmo do fim da Ditadura, o Arquipélago da Morte foi completamente esquecido, e todas as comunicações foram cortadas - onde a esse ponto, o lugar tomou seu ínfamo nome. Morte e sofrimento eram cotidianas para os prisoneiros, que se não eram torturados e mortos por diversão pelos guardas, faziam coisas horríveis e se matavam entre si por um prato de comida. Kerol não podia lutar, não podiar matar, e não podia morrer; ela tinha que sobreviver por sua filha, e por isso, fez o que podia: ficou do lado dos guardas, se deixando ser usada para garantir a sobrevivência sua e de sua menina.
Mas um dia, o campo de concentração aonde estavam foi cercado: eram os tais mutantes, munidos de todo tipo de arma e sedentos por sangue. Kerol, em um último esforço, possibilitou com que sua filha escapasse. Ninguém mais escapou.
Anos se passaram, e agora, o contexto havia mudado: Não haviam mais prisoneiros e guardas, campos ou governos - tudo isso foi esquecido, como os que pereceram. Agora havia apenas a vontade de sobreviver. Grupos se formaram, todos buscando se manter vivos dos perigos da Ilha, especialmente dos mutantes, que pareciam crescer cada vez mais em números. Os militares de outrora, avantajados pela sua posição anterior e armamento disponível, na decisão mais lógica, se juntaram, formando um poderoso exército de guerrilheiros e soldados comandado por um tal Comandante Hélioz. Em sua jornada de exterminar todas as ameaças, humanas ou mutantes, das ilhas, foi esse grupo que encontrou a filha de Kerol mais uma vez, tendo sobrevivido sozinha na floresta por todo esse tempo, agora com 14 anos.
Quando perguntaram seu nome, ela disse que não se lembrava. Ela também contou brevemente sua história, e que havia matado 3 mutantes até agora. Como chacota, a chamaram então de Leona - "Leoa", em espanhol. Impressionado com o feitio da garota de sobreviver por tanto tempo, Hélioz pede para que ela fosse incorporada à suas tropas, onde ele a supervisionaria constantemente. Leona então começa a agir como um dos capangas de Hélioz, adotando o velho uniforme de guarda que usavam e a boina vermelha, ao mesmo tempo que recebe o treinamento militar dos seus integrantes. Eficiente, focada, e obediente, Leona lentamente ganha o respeito de Hélioz e se torna um de seus "homens" mais leais.
Um dia, já com 19 anos, ela liderava um esquadrão para uma das ilhas menores, atrás de mutantes, que mais uma vez queimavam enormes pilhas de corpos na praia para atrair embarcações, e matar suas tripulações. Ao chegar ao local, ela encontra os mutantes já mortos, e então, uma surpresa - ou melhor, uma emboscada. Leona finalmente vê os nativos, mas junto com seu esquadrão, é rendida e desacordada. Ela acorda sozinha, no meio da floresta. Tentando se localizar, coisas estranhas acontecem, e ela vê visões de sua mãe, dos campos de concentração, de mutantes, brutalidades, corpos, e todos os tipos de animais. Após horas e horas de alucinações, no fim de tudo, ela acaba por pular de um penhasco, o que mais tarde se mostra ser a prova final dos Yawuara-Ietê, a tribo indígena nativa do arquipélago.
Ela é levada para a tribo indígena por um mediante, Carlos Wolf, um professor de história, que a conta tudo: passado o teste, ela havia sido aceita pela ilha, e mostrado seu valor de alma, por isso, ela era bem-vinda na tribo, assim como ele e outros refugiados, que costumavam ser prisioneiros dos campos. Vendo que eles não eram canibais ou perigosos, e com pensamentos incessantes sobre si mesma, ela acaba por passar alguns meses na tribo, se tornando amiga da tribo, e de Wolf, e aprendendo o que podia não só sobre a floresta, mas do porquê estavam lá. Eventualmente, ela acaba por ajudá-los a se defender de um ataque mutante, e é então é presenteada com uma espécie de título honorífico, sendo batizada de Kinjanë, a "Espírito Feroz"; mas dentro de si, ela tinha finalmente escolhido seu próprio nome: Carolina, em homenagem à sua mãe.
Carolina então decide voltar para o acampamento de Hélioz, com uma idéia singela, mas até então impensada: juntar todos os grupos, todas as "tribos", pelo bem maior; sobreviver contra os mutantes, JUNTOS. Sob seu pedido, Wolf e alguns nativos decidem segui-la, e eles conseguem adentrar o quartel, o Comandante ansioso pela volta de sua braço direito. Lá, Carolina e Hélioz conversam, e ela se mostra mudada, disposta a terminar todo o derramamento de sangue desnecessário, mas o líder dos boinas vermelhas se mostra teimoso, e a expulsa de lá, a acusando de ter desertado. Porém, a discussão já havia se espalhado pelo acampamento. A maior parte dos soldados parece tomar o lado de Carolina, e se juntam a ela, e a tribo, enquanto Hélioz e o resto, em menor número, desaparecem na floresta.
Carolina então se torna a mediante entre os Yawuara-Ietê e os guerrilheiros, e sem querer, a líder deles. Wolf se torna seu conselheiro, e assim, ela segue juntando todos os grupos de humanos do arquipélago, oferecendo-os sua aliança desde que eles dessem algo em troca - informação, conhecimento ou recursos. No meio dissio, ela passa a ouvir cada vez menos notícias de Hélioz e seus homens pela Ilha, até um dia não ouvir mais. Sem demora, ela forma uma poderosa comunidade centrada na ilha principal, que consegue como planejado rebater com sucesso os ataques de mutantes, e por consequência, diminuir seus números. Quando todos perceberam o que havia sido feito, o que aquilo havia se tornado, todos se viraram para Carolina. Aos seus 21 anos, a jovem recebeu o título dos nativos de "Pari-Avii" - a Ave-Mãe -, e foi elegida por todos a governanta oficial e vitalícia da comunidade, que agora era uma nação; acima disso, todos a adoravam. Ela havia se tornado mais do que apenas uma chefe de estado.
Rainha Kenjanë, ou Rainha Carolina I então passou a governar a nação karolínia, e ao mesmo tempo, se dedicar aos estudos com seus conselheiros e tutores, principalmente Carlos Wolf. Ela aprendeu História de cabo a rabo, de Genghis Khan à Napoleão Bonaparte, e ficou fascinada por Alexandre, o Grande, e Alexandria, de onde tirou muitas idéias para seu próprio governo. Eles atraíam e cuidavam de embarcações ou naufragos que chegavam ao arquipélago, e sempre pediam uma coisa em troca de outra: O bem-estar em sua Ilha, em troca de recursos e conhecimento. Ao mesmo tempo, nunca ficou fora de forma, treinando artes marciais e combate com seu exército, e sumindo na floresta em caçadas com os Yawuara-Ietê. Logo, os ventos da mudança iriam bater denovo em seu rosto.
As notícias chegaram às pressas ao Salão Real. Havia uma frota de navios na costa, e homens armados por toda a praia. Temerosa pelas repetições do passado, Carolina manda que todos se refugiem em esconderijos ou na floresta, e não ataquem a não ser que sejam atacados primeiro. Através de seus homens, ela entra em contato com os invasores, tentando identificá-los. Apenas uma sigla volta como resposta: "P.E.G.A.S.U.S.". Ela então faz o de sempre: uma troca de favores. Ela dá informações ao tal grupo sobre a Ilha, e sobre os perigos para evitar - como os mutantes, que ainda existiam na Ilha -, e pede que eles sigam pacíficamente aos pés do seu Palácio, aonde ela iria encontrá-los.
Ao fim da tarde, soldados de trajes modernos e guerrilheiros se encaravam através de canos de rifles aos pés da escadaria real, se sobressaindo de cada lado dois pares de pessoas. A Rainha Karolínia e seu Conselheiro Real conversam com o que parecem ser os líderes de campo daquela incursão da P.E.G.A.S.U.S., e tudo é exposto: ela estava sendo imediatamente deposta e presa por pirataria, e crimes contra a Humanidade. Para a surpresa de todos, Carolina se entrega sem resistência, sendo levados também Carlos Wolf, e os ranques altos do seu exército. Carolina não queria se lembrar de más memórias, então pede que seja desacordada até chegarem em terra firme.
Ela acorda em um sala escura, onde é interrogada - ou pelo menos o que chamavam agora de interrogação. Ela então descobre tudo: todas aquelas décadas de sofrimento, todas aquelas pessoas que foram sequestradas e levadas pra Ilha, tudo foi exposto para o público, e agora, havia caído tudo sobre ela. Ela era inocente de todas as acusações, mas era o bode expiatório, e não podia voltar o Arquipélago da Morte, do contrário o mundo voltaria os olhos para lá, e o seu povo. Ela agora estava exilada, exilada longe do seu povo, exilada a viver uma vida como uma cidadã brasileira comum, anônima, como qualquer outra. Ela não era mais Rainha Kinjanë Pari-Avii Carolina Leona Wolf y Ferrera; somente Carolina Ferreira.
Passando a viver e se acostumar com a vida comum em Nova Capital, Carol vê os heróis e vigilantes que protegem a cidade, e em busca de aventuras, para matar a saudade de casa, sua verdadeira casa, ela se torna uma vigilante, chamada nos jornais de Sombria, logo ganhando notoriedade, e conhecendo outros como ela no caminho. Sempre aberta á conversas, ela recebe uma proposta de um dos seus conhecidos companheiros de vigilantismo, de integrar uma nova e secreta organização, só de vigilantes. Querendo aprender mais sobre meta-humanos, e conhecer mais pessoas, Carol aceita o pedido, e então se junta ao Sindicato.
Nome: Carol Ferreira (Kinjanë Pari-Avii Carolina Leona Wolf y Ferrera)
Idade: 33 anos
Área de Atuação: Marechal Andrade (ZN)
VANTAGENS:
- Acrobacia: 1
- Agilidade: 2
- Arma (Yakan-Boleadeira): 2
- Bombas de Fumaça: 1
- Ciências: 1
- Combate: 2
- Traje de Combate: 1
Visual:
História:
Ao norte do Brasil, e em meio ao Oceano Atlântico, existe um arquipélago de 26 ilhas e/ou ilhéus, conhecidas hoje como o Arquipélago de Fernão, em homenagem à seu descobridor. Porém, para quem conhece a região ou a sua história, o conjunto de ilhas recebe outros nomes: Arquipélago Fantasma, Arquipélago Vermelho, ou, mais comumente, o Arquipélago da Morte. Na época da Ditadura Militar no Brasil, a região foi usada como "prisão política": jornalistas, professores e alunos de universidades, supostos comunistas, e todos aqueles que se opunham ao Governo então eram exilados, sequestrados, ou "desaparecidos" para embarcações militares que os levavam, junto a criminosos, para essas ilhas.
Numa dessas embarcações, estavam Keroline, uma estudante ativista, e sua filha de 3 anos de idade. Elas chegaram à ilha principal e foram levadas junto aos outros para grandes campos de concentração no meio da floresta, cercados por arame farpado e vigiados por homens armados - militares a mando do Governo. Presos lá, eles eram forçados a trabalhar para manter o campo, e a dormir, centenas deles, em pequenas salas com poucas janelas e camas. Não era fácil, mas Keroline conseguia cuidar de sua filha, que era o que importava. À noite, ela conversava com os outros. Não havia só brasileiros lá; haviam exilados de diversos outros países sul-americanos também (Graças a Operação Condor). Ela também ouvia histórias terríveis de presos que eram interrogados e torturados, abusos horríveis que aconteciam de vez em quando. Ela havia chegado a pouco tempo; logo seria a vez dela, ela pensava consigo mesma.
A filha de Kerol crescia cercada por pessoas cultas que pareciam querer ensiná-la tudo que sabiam - afinal, ela nunca iria à escola, e eles talvez nunca mais saíriam de lá; porém, ao redor dela, as coisas só pioravam, dia após dia. Dos barcos, ao mesmo tempo em que chegavam mais prisoneiros e guardas, chegavam menos recursos. Os guardas pareciam ficar mais nervosos a cada dia, por receberem menos e menos apoio do continente, e ouvindo histórias de criminosos que escaparam ou se rebelaram, tribo de nativos canibais, e supostos mutantes - aberrações desfiguradas de projetos falhos, também despejadas pelos governos nas ilhas; logo, eles descontavam suas frustações e inseguranças nos prisoneiros.
Pouco antes até mesmo do fim da Ditadura, o Arquipélago da Morte foi completamente esquecido, e todas as comunicações foram cortadas - onde a esse ponto, o lugar tomou seu ínfamo nome. Morte e sofrimento eram cotidianas para os prisoneiros, que se não eram torturados e mortos por diversão pelos guardas, faziam coisas horríveis e se matavam entre si por um prato de comida. Kerol não podia lutar, não podiar matar, e não podia morrer; ela tinha que sobreviver por sua filha, e por isso, fez o que podia: ficou do lado dos guardas, se deixando ser usada para garantir a sobrevivência sua e de sua menina.
Mas um dia, o campo de concentração aonde estavam foi cercado: eram os tais mutantes, munidos de todo tipo de arma e sedentos por sangue. Kerol, em um último esforço, possibilitou com que sua filha escapasse. Ninguém mais escapou.
Anos se passaram, e agora, o contexto havia mudado: Não haviam mais prisoneiros e guardas, campos ou governos - tudo isso foi esquecido, como os que pereceram. Agora havia apenas a vontade de sobreviver. Grupos se formaram, todos buscando se manter vivos dos perigos da Ilha, especialmente dos mutantes, que pareciam crescer cada vez mais em números. Os militares de outrora, avantajados pela sua posição anterior e armamento disponível, na decisão mais lógica, se juntaram, formando um poderoso exército de guerrilheiros e soldados comandado por um tal Comandante Hélioz. Em sua jornada de exterminar todas as ameaças, humanas ou mutantes, das ilhas, foi esse grupo que encontrou a filha de Kerol mais uma vez, tendo sobrevivido sozinha na floresta por todo esse tempo, agora com 14 anos.
Quando perguntaram seu nome, ela disse que não se lembrava. Ela também contou brevemente sua história, e que havia matado 3 mutantes até agora. Como chacota, a chamaram então de Leona - "Leoa", em espanhol. Impressionado com o feitio da garota de sobreviver por tanto tempo, Hélioz pede para que ela fosse incorporada à suas tropas, onde ele a supervisionaria constantemente. Leona então começa a agir como um dos capangas de Hélioz, adotando o velho uniforme de guarda que usavam e a boina vermelha, ao mesmo tempo que recebe o treinamento militar dos seus integrantes. Eficiente, focada, e obediente, Leona lentamente ganha o respeito de Hélioz e se torna um de seus "homens" mais leais.
Um dia, já com 19 anos, ela liderava um esquadrão para uma das ilhas menores, atrás de mutantes, que mais uma vez queimavam enormes pilhas de corpos na praia para atrair embarcações, e matar suas tripulações. Ao chegar ao local, ela encontra os mutantes já mortos, e então, uma surpresa - ou melhor, uma emboscada. Leona finalmente vê os nativos, mas junto com seu esquadrão, é rendida e desacordada. Ela acorda sozinha, no meio da floresta. Tentando se localizar, coisas estranhas acontecem, e ela vê visões de sua mãe, dos campos de concentração, de mutantes, brutalidades, corpos, e todos os tipos de animais. Após horas e horas de alucinações, no fim de tudo, ela acaba por pular de um penhasco, o que mais tarde se mostra ser a prova final dos Yawuara-Ietê, a tribo indígena nativa do arquipélago.
Ela é levada para a tribo indígena por um mediante, Carlos Wolf, um professor de história, que a conta tudo: passado o teste, ela havia sido aceita pela ilha, e mostrado seu valor de alma, por isso, ela era bem-vinda na tribo, assim como ele e outros refugiados, que costumavam ser prisioneiros dos campos. Vendo que eles não eram canibais ou perigosos, e com pensamentos incessantes sobre si mesma, ela acaba por passar alguns meses na tribo, se tornando amiga da tribo, e de Wolf, e aprendendo o que podia não só sobre a floresta, mas do porquê estavam lá. Eventualmente, ela acaba por ajudá-los a se defender de um ataque mutante, e é então é presenteada com uma espécie de título honorífico, sendo batizada de Kinjanë, a "Espírito Feroz"; mas dentro de si, ela tinha finalmente escolhido seu próprio nome: Carolina, em homenagem à sua mãe.
Carolina então decide voltar para o acampamento de Hélioz, com uma idéia singela, mas até então impensada: juntar todos os grupos, todas as "tribos", pelo bem maior; sobreviver contra os mutantes, JUNTOS. Sob seu pedido, Wolf e alguns nativos decidem segui-la, e eles conseguem adentrar o quartel, o Comandante ansioso pela volta de sua braço direito. Lá, Carolina e Hélioz conversam, e ela se mostra mudada, disposta a terminar todo o derramamento de sangue desnecessário, mas o líder dos boinas vermelhas se mostra teimoso, e a expulsa de lá, a acusando de ter desertado. Porém, a discussão já havia se espalhado pelo acampamento. A maior parte dos soldados parece tomar o lado de Carolina, e se juntam a ela, e a tribo, enquanto Hélioz e o resto, em menor número, desaparecem na floresta.
Carolina então se torna a mediante entre os Yawuara-Ietê e os guerrilheiros, e sem querer, a líder deles. Wolf se torna seu conselheiro, e assim, ela segue juntando todos os grupos de humanos do arquipélago, oferecendo-os sua aliança desde que eles dessem algo em troca - informação, conhecimento ou recursos. No meio dissio, ela passa a ouvir cada vez menos notícias de Hélioz e seus homens pela Ilha, até um dia não ouvir mais. Sem demora, ela forma uma poderosa comunidade centrada na ilha principal, que consegue como planejado rebater com sucesso os ataques de mutantes, e por consequência, diminuir seus números. Quando todos perceberam o que havia sido feito, o que aquilo havia se tornado, todos se viraram para Carolina. Aos seus 21 anos, a jovem recebeu o título dos nativos de "Pari-Avii" - a Ave-Mãe -, e foi elegida por todos a governanta oficial e vitalícia da comunidade, que agora era uma nação; acima disso, todos a adoravam. Ela havia se tornado mais do que apenas uma chefe de estado.
Rainha Kenjanë, ou Rainha Carolina I então passou a governar a nação karolínia, e ao mesmo tempo, se dedicar aos estudos com seus conselheiros e tutores, principalmente Carlos Wolf. Ela aprendeu História de cabo a rabo, de Genghis Khan à Napoleão Bonaparte, e ficou fascinada por Alexandre, o Grande, e Alexandria, de onde tirou muitas idéias para seu próprio governo. Eles atraíam e cuidavam de embarcações ou naufragos que chegavam ao arquipélago, e sempre pediam uma coisa em troca de outra: O bem-estar em sua Ilha, em troca de recursos e conhecimento. Ao mesmo tempo, nunca ficou fora de forma, treinando artes marciais e combate com seu exército, e sumindo na floresta em caçadas com os Yawuara-Ietê. Logo, os ventos da mudança iriam bater denovo em seu rosto.
As notícias chegaram às pressas ao Salão Real. Havia uma frota de navios na costa, e homens armados por toda a praia. Temerosa pelas repetições do passado, Carolina manda que todos se refugiem em esconderijos ou na floresta, e não ataquem a não ser que sejam atacados primeiro. Através de seus homens, ela entra em contato com os invasores, tentando identificá-los. Apenas uma sigla volta como resposta: "P.E.G.A.S.U.S.". Ela então faz o de sempre: uma troca de favores. Ela dá informações ao tal grupo sobre a Ilha, e sobre os perigos para evitar - como os mutantes, que ainda existiam na Ilha -, e pede que eles sigam pacíficamente aos pés do seu Palácio, aonde ela iria encontrá-los.
Ao fim da tarde, soldados de trajes modernos e guerrilheiros se encaravam através de canos de rifles aos pés da escadaria real, se sobressaindo de cada lado dois pares de pessoas. A Rainha Karolínia e seu Conselheiro Real conversam com o que parecem ser os líderes de campo daquela incursão da P.E.G.A.S.U.S., e tudo é exposto: ela estava sendo imediatamente deposta e presa por pirataria, e crimes contra a Humanidade. Para a surpresa de todos, Carolina se entrega sem resistência, sendo levados também Carlos Wolf, e os ranques altos do seu exército. Carolina não queria se lembrar de más memórias, então pede que seja desacordada até chegarem em terra firme.
Ela acorda em um sala escura, onde é interrogada - ou pelo menos o que chamavam agora de interrogação. Ela então descobre tudo: todas aquelas décadas de sofrimento, todas aquelas pessoas que foram sequestradas e levadas pra Ilha, tudo foi exposto para o público, e agora, havia caído tudo sobre ela. Ela era inocente de todas as acusações, mas era o bode expiatório, e não podia voltar o Arquipélago da Morte, do contrário o mundo voltaria os olhos para lá, e o seu povo. Ela agora estava exilada, exilada longe do seu povo, exilada a viver uma vida como uma cidadã brasileira comum, anônima, como qualquer outra. Ela não era mais Rainha Kinjanë Pari-Avii Carolina Leona Wolf y Ferrera; somente Carolina Ferreira.
Passando a viver e se acostumar com a vida comum em Nova Capital, Carol vê os heróis e vigilantes que protegem a cidade, e em busca de aventuras, para matar a saudade de casa, sua verdadeira casa, ela se torna uma vigilante, chamada nos jornais de Sombria, logo ganhando notoriedade, e conhecendo outros como ela no caminho. Sempre aberta á conversas, ela recebe uma proposta de um dos seus conhecidos companheiros de vigilantismo, de integrar uma nova e secreta organização, só de vigilantes. Querendo aprender mais sobre meta-humanos, e conhecer mais pessoas, Carol aceita o pedido, e então se junta ao Sindicato.
- Sombria
Re: [Moderador] - Sombria
10/05/15, 02:52 pm
Epílogo: Redenção
Da Missão: De Pecado para Inferno
Link: https://fabricadeherois.forumeiros.com/t606-bairro-jardim-da-redencao#26690
O incêndio tomava conta de todo o prédio, notoriamente conhecido por toda a cidade como a Casa do Pecado. O fogo, feroz e reluzente, expurgava as sinas do prostíbulo, pedaço por pedaço, que em seguida desmoronava sobre si mesmo, em uma pilha de entulhos.
A luz das chamas e o som da linha do metrô, não tão longe dali, acordam Fogosa, que abre os olhos lentamente. Com sua visão grogue, ela vê apenas luz na escuridão e um rosto feminino amigável acima dela, enquanto sentia seu corpo deitado, confortável e aconchegado em um cobertor, se sentindo como um bebê, enquanto tinha seus cabelos e rosto acariciados. Achou então que estivesse ido pro céu.
– ... Onde... Estou? – Quase sussurra a moça, ainda tentando fazer sentido de tudo.
– Fora do inferno. – Responde a voz acima dela, em um tom calmo e quase maternal. – Você está segura agora, comigo.
– ... O-Obrigada... – Responde Fogosa, sem pensar demais. Ela olha novamente para o rosto logo acima, recobrando o foco da sua visão. – Quem é você?...
A stripper então faz sentido do que via: Uma mulher mascarada, de capuz e roupas negras. Ao lado, via a Casa do Pecado engolida em chamas, e uma vaga memória de que estava fazendo sua performance no palco. Ela tenta se desvencilhar da capa na qual estava enrolada, saindo do colo da vigilante.
– O Quê? Essa é a Casa!... Que que tá acontecendo? Que que aconteceu?! – Fogosa entra em desespero, olhando seu local de trabalho, e casa, ser incinerada até o chão.
– Tá tudo bem, fica calma... – A mulher encapuzada se levanta também, mostrando as mãos.
– Por que a Casa do Pecado tá pegando fogo? Foi culpa minha?! Quem é você?! – Ela se vira para a moça, olhando com suspeitas para a mesma.
– Eu não sei direito o que aconteceu.
– Onde estão os outros? Só eu sobrevivi?
– Todo mundo fugiu quando o incêndio começou. Eu escutei um baque... Uma explosão. E então eu te achei no palco, desmaiada no meio das chamas. Saímos pelos fundos. – Explica a moça de roupas negras, cruzando os braços.
Fogosa olha para o manto que a cobria parcialmente agora, o manto que pertencia a mulher mascarada à sua frente. Ela observa o traje da mesma, e logo pergunta:
– Você é uma daqueles vigilantes, não é?... Você me salvou?
– Sim. – Responde curto. Ela logo continua. –Quando eu te encontrei no palco, você estava em chamas; mas não parece ter se queimado nem um pouco. Imagino que seja uma meta-humana.
– Aham. Eu posso... Acender meus cabelos. Faz parte do meu show. Ou, fazia, agora que não existe mais Casa do Pecado... – Fogosa fala, tomando um semblante melancólico. – ... Quais são os seus?
– Eu não tenho poderes.
– Não? Então... Como você me salvou?
A vigilante encapuzada dá um sorriso, descruzando os braços e logo em seguida se aproximando da stripper, enquanto observava o beco pelo movimento de transeuntes e, ou policiais e bombeiros. Ela abaixa o seu capuz, mostrando seus cabelos loiros; e mostrando um pouco melhor também o seu rosto, realçando seus olhos azuis.
– Fico muito feliz que esteja bem. Eu estava preocupada que você tivesse alguma concussão ou que talvez tivesse respirado muita fumaça... – Ela faz uma pausa, olhando pros lados novamente. –... Eu preciso ir. Esse lugar não vai ficar deserto por muito mais tempo.
A heroína então se vira, se afastando então rapidamente. Fogosa, que até então permanecia parada, quieta, então começa a ir atrás dela.
– E-Espere! Espera aí! Sua capa!
– Você pode ficar com ela! – A vigilante diz, começando então a correr.
De salto alto, a jovem stripper também tenta correr, mas após alguns segundos, ela para, quase tropeçando. Seus olhos já estavam lacrimejados, e rapidamente, ela começa a chorar. A heroína então para de correr também ao ouvir o choro repentino da moça, se virando.
– Espere... – Fogosa balbucia, aos prantos. –M-Me leve... Me leve com você... Por favor...!
A heroína fica em silêncio, surpresa, e sem palavras.
– Por favor... E-Eu não tenho onde ficar... Tudo... Tava lá dentro... – Revela Fogosa, como se ela tivesse percebido aquilo só naquele momento.
A Igreja de Santa Ângela permanecia na escuridão de fundo da noite em Marechal Andrade, apenas seus degraus iluminados. Ninguém notava o movimento de vultos que acontecia no seu telhado.
O alçapão abre, e pouco tempo depois, ouve-se o som de salto alto batendo contra o chão. Estava tudo escuro naquele lugar, exceto pela pequena janela em um canto que deixava entrar a luz da noite lá fora. Ouve-se então outro baque contra o chão, esse quase inaudível. Logo em seguida, os saltos começam a bater no chão novamente.
– Nossa... Não consigo ver nada aqui dentro...
– Calma... – Ouve-se então um barulho repentino de motor tentando pegar, engasgando em seguida. O som se repete algumas vezes, até que ele parece ligar. E então, o lugar se ilumina.
Era um pequeno quarto, mal-acabado, que parecia estar logo abaixo do telhado da Igreja. O lugar parecia estar restaurado, e estava quase completamente pintado de vermelho, mas não parecia ter sido terminado ainda, com todo o equipamento de pintura e a lata de tinta ainda ali. Havia um gerador de energia portátil em um canto, ao qual as duas luminárias de chão do local se conectavam, além de outros aparelhos como um elaborado aparelho de rádio, em cima de uma mesa de madeira num canto, ao lado de uma porta, que supostamente deveria dar para o resto da Igreja. Haviam mapas, recortes de jornal e outros papéis grudados nas paredes não pintadas, mas era possível notar sobras rasgadas por toda parte, como se tivesse muito mais no passado, mas foi tudo arrancado. Num outro canto, havia um saco de viagem no chão.
– Pronto. Está aí. – Diz a vigilante, abrindo um pequeno sorriso. –Você pode ficar aqui por quanto tempo precisar.
– Como você achou esse lugar? – Pergunta Fogosa, observando todo o cômodo. –... A gente pode ficar aqui?
– Não se preocupe. Eu costumava usar esse lugar, nas noites que eu... Fazia isso aqui. – Sombria olha para o próprio uniforme. –Eu já cheguei a dormir inúmeras vezes aqui. O rádio, os papéis grudados nas paredes, o gerador... É tudo meu. O vermelho também foi ideia minha, mas aí, eu recebi um convite...
– Espera um pouco. – Fogosa interrompe a vigilante. –Você disse que dormia aqui? Onde?
– Ah é... – Sombria coça a cabeça. –Eu... Não gosto de camas. Muito macias.
– O QUÊ?! Quem não gosta de camas?!
Uma pilha de roupas é feita, pegas de dentro do saco de viagem, de modo a formar uma espécie de cama no chão. Fogosa, ainda enrolada, seminua, no manto de Sombria, pegava algumas peças de roupa do saco e as colocava contra o seu corpo, vendo se iria lhe servir. A ex-monarca observava a noite lá fora, escorada na pequena janela do lugar.
– Posso me trocar aqui mesmo? Eu a-do-rei as suas roupas. – Pergunta a meta-humana.
– Pode sim, à vontade.
Em seguida, Sombria pega por reflexo sua capa, jogada na sua direção pela jovem. Ela vê Fogosa começar a despir o resto de suas roupas já curtas e sensuais, e tirar o seu salto alto, ficando só de calcinha para então vestir as roupas civis da vigilante – uma blusa de manga longa e um shorts.
– ... Hmm. A camisa é meio apertada, mas o shorts está folgado. Olhando bem, você tem boas pernas mesmo... – A dançarina repara no corpo da heroína.
– Eu vou encontrar algum colchão para você, de preferência um que eu não precise carregar até aqui. Inflável. Vou te visitar de vez em quando, trazer comida, essas coisas. De resto, eu acredito que você consegue se virar sozinha. Duvido que tinha todo o seu dinheiro guardado debaixo do seu travesseiro, na Casa do Pecado, então use-o.
Um breve silêncio se segue, enquanto Sombria veste seu manto novamente, e verifica seu celular. Fogosa permanecia ali parada, ainda olhando para a heroína soturna.
– Não parece uma piada? Eu sou uma stripper salva das chamas de um lugar chamado Casa do Pecado, traga para morar numa Igreja. – Comenta ela, abrindo um sorriso. –Então você é a Santa...
A vigilante permanece calada.
– ... Você nunca me disse o seu nome.
– Existe um motivo pelo qual eu uso máscara. – Responde Sombria, ainda ocupada com o celular.
– Sim, eu sei. Até entendo. Eu não quis dizer seu nome de verdade. – Ela faz uma pequena pausa. –... Pra evitar os stalkers da vida, a gente lá na Casa do Pecado usava apelidos... Outros nomes, pra não ter que usar o nosso. Que nem os vigilantes. O meu nome era Fogosa. Qual é o seu nome?
Carol então se vira para a moça, ajustando suas luvas.
– ... Sombria.
– Sombria? Eu não vejo muito de sombria em você, exceto talvez pelas roupas.
– Você não conheceu meu lado sombrio ainda.
A moça ri, caindo sentada na pilha de roupas, mordendo os lábios.
– ... Talvez eu devesse.
A ex-monarca caminha até a dançarina, se agachando e olhando em seus olhos. Ela penteia seus cabelos mais uma vez.
– ... Espero que nunca conheça. – Sombria fala, beijando-a na testa antes de se levantar e se encaminhar para baixo do buraco do alçapão.
– ... Santa Sombria. – Diz Fogosa, vendo a heroína partir. – ... Você é a minha Santa Sombria.
Sombria olha uma última vez para Fogosa, antes de jogar o capuz na cabeça e saltar pra fora do lugar. Ela caminha pelo teto da Igreja, olhando para a cidade abaixo dela. Ela para na beirada, permanecendo lá, como uma estátua, fechando os olhos e sentindo o ar da noite bater contra ela.
Ela então abre os olhos e pula, desaparecendo como um vulto na noite.
Da Missão: De Pecado para Inferno
Link: https://fabricadeherois.forumeiros.com/t606-bairro-jardim-da-redencao#26690
O incêndio tomava conta de todo o prédio, notoriamente conhecido por toda a cidade como a Casa do Pecado. O fogo, feroz e reluzente, expurgava as sinas do prostíbulo, pedaço por pedaço, que em seguida desmoronava sobre si mesmo, em uma pilha de entulhos.
A luz das chamas e o som da linha do metrô, não tão longe dali, acordam Fogosa, que abre os olhos lentamente. Com sua visão grogue, ela vê apenas luz na escuridão e um rosto feminino amigável acima dela, enquanto sentia seu corpo deitado, confortável e aconchegado em um cobertor, se sentindo como um bebê, enquanto tinha seus cabelos e rosto acariciados. Achou então que estivesse ido pro céu.
– ... Onde... Estou? – Quase sussurra a moça, ainda tentando fazer sentido de tudo.
– Fora do inferno. – Responde a voz acima dela, em um tom calmo e quase maternal. – Você está segura agora, comigo.
– ... O-Obrigada... – Responde Fogosa, sem pensar demais. Ela olha novamente para o rosto logo acima, recobrando o foco da sua visão. – Quem é você?...
A stripper então faz sentido do que via: Uma mulher mascarada, de capuz e roupas negras. Ao lado, via a Casa do Pecado engolida em chamas, e uma vaga memória de que estava fazendo sua performance no palco. Ela tenta se desvencilhar da capa na qual estava enrolada, saindo do colo da vigilante.
– O Quê? Essa é a Casa!... Que que tá acontecendo? Que que aconteceu?! – Fogosa entra em desespero, olhando seu local de trabalho, e casa, ser incinerada até o chão.
– Tá tudo bem, fica calma... – A mulher encapuzada se levanta também, mostrando as mãos.
– Por que a Casa do Pecado tá pegando fogo? Foi culpa minha?! Quem é você?! – Ela se vira para a moça, olhando com suspeitas para a mesma.
– Eu não sei direito o que aconteceu.
– Onde estão os outros? Só eu sobrevivi?
– Todo mundo fugiu quando o incêndio começou. Eu escutei um baque... Uma explosão. E então eu te achei no palco, desmaiada no meio das chamas. Saímos pelos fundos. – Explica a moça de roupas negras, cruzando os braços.
Fogosa olha para o manto que a cobria parcialmente agora, o manto que pertencia a mulher mascarada à sua frente. Ela observa o traje da mesma, e logo pergunta:
– Você é uma daqueles vigilantes, não é?... Você me salvou?
– Sim. – Responde curto. Ela logo continua. –Quando eu te encontrei no palco, você estava em chamas; mas não parece ter se queimado nem um pouco. Imagino que seja uma meta-humana.
– Aham. Eu posso... Acender meus cabelos. Faz parte do meu show. Ou, fazia, agora que não existe mais Casa do Pecado... – Fogosa fala, tomando um semblante melancólico. – ... Quais são os seus?
– Eu não tenho poderes.
– Não? Então... Como você me salvou?
A vigilante encapuzada dá um sorriso, descruzando os braços e logo em seguida se aproximando da stripper, enquanto observava o beco pelo movimento de transeuntes e, ou policiais e bombeiros. Ela abaixa o seu capuz, mostrando seus cabelos loiros; e mostrando um pouco melhor também o seu rosto, realçando seus olhos azuis.
– Fico muito feliz que esteja bem. Eu estava preocupada que você tivesse alguma concussão ou que talvez tivesse respirado muita fumaça... – Ela faz uma pausa, olhando pros lados novamente. –... Eu preciso ir. Esse lugar não vai ficar deserto por muito mais tempo.
A heroína então se vira, se afastando então rapidamente. Fogosa, que até então permanecia parada, quieta, então começa a ir atrás dela.
– E-Espere! Espera aí! Sua capa!
– Você pode ficar com ela! – A vigilante diz, começando então a correr.
De salto alto, a jovem stripper também tenta correr, mas após alguns segundos, ela para, quase tropeçando. Seus olhos já estavam lacrimejados, e rapidamente, ela começa a chorar. A heroína então para de correr também ao ouvir o choro repentino da moça, se virando.
– Espere... – Fogosa balbucia, aos prantos. –M-Me leve... Me leve com você... Por favor...!
A heroína fica em silêncio, surpresa, e sem palavras.
– Por favor... E-Eu não tenho onde ficar... Tudo... Tava lá dentro... – Revela Fogosa, como se ela tivesse percebido aquilo só naquele momento.
***
A Igreja de Santa Ângela permanecia na escuridão de fundo da noite em Marechal Andrade, apenas seus degraus iluminados. Ninguém notava o movimento de vultos que acontecia no seu telhado.
O alçapão abre, e pouco tempo depois, ouve-se o som de salto alto batendo contra o chão. Estava tudo escuro naquele lugar, exceto pela pequena janela em um canto que deixava entrar a luz da noite lá fora. Ouve-se então outro baque contra o chão, esse quase inaudível. Logo em seguida, os saltos começam a bater no chão novamente.
– Nossa... Não consigo ver nada aqui dentro...
– Calma... – Ouve-se então um barulho repentino de motor tentando pegar, engasgando em seguida. O som se repete algumas vezes, até que ele parece ligar. E então, o lugar se ilumina.
Era um pequeno quarto, mal-acabado, que parecia estar logo abaixo do telhado da Igreja. O lugar parecia estar restaurado, e estava quase completamente pintado de vermelho, mas não parecia ter sido terminado ainda, com todo o equipamento de pintura e a lata de tinta ainda ali. Havia um gerador de energia portátil em um canto, ao qual as duas luminárias de chão do local se conectavam, além de outros aparelhos como um elaborado aparelho de rádio, em cima de uma mesa de madeira num canto, ao lado de uma porta, que supostamente deveria dar para o resto da Igreja. Haviam mapas, recortes de jornal e outros papéis grudados nas paredes não pintadas, mas era possível notar sobras rasgadas por toda parte, como se tivesse muito mais no passado, mas foi tudo arrancado. Num outro canto, havia um saco de viagem no chão.
– Pronto. Está aí. – Diz a vigilante, abrindo um pequeno sorriso. –Você pode ficar aqui por quanto tempo precisar.
– Como você achou esse lugar? – Pergunta Fogosa, observando todo o cômodo. –... A gente pode ficar aqui?
– Não se preocupe. Eu costumava usar esse lugar, nas noites que eu... Fazia isso aqui. – Sombria olha para o próprio uniforme. –Eu já cheguei a dormir inúmeras vezes aqui. O rádio, os papéis grudados nas paredes, o gerador... É tudo meu. O vermelho também foi ideia minha, mas aí, eu recebi um convite...
– Espera um pouco. – Fogosa interrompe a vigilante. –Você disse que dormia aqui? Onde?
– Ah é... – Sombria coça a cabeça. –Eu... Não gosto de camas. Muito macias.
– O QUÊ?! Quem não gosta de camas?!
Uma pilha de roupas é feita, pegas de dentro do saco de viagem, de modo a formar uma espécie de cama no chão. Fogosa, ainda enrolada, seminua, no manto de Sombria, pegava algumas peças de roupa do saco e as colocava contra o seu corpo, vendo se iria lhe servir. A ex-monarca observava a noite lá fora, escorada na pequena janela do lugar.
– Posso me trocar aqui mesmo? Eu a-do-rei as suas roupas. – Pergunta a meta-humana.
– Pode sim, à vontade.
Em seguida, Sombria pega por reflexo sua capa, jogada na sua direção pela jovem. Ela vê Fogosa começar a despir o resto de suas roupas já curtas e sensuais, e tirar o seu salto alto, ficando só de calcinha para então vestir as roupas civis da vigilante – uma blusa de manga longa e um shorts.
– ... Hmm. A camisa é meio apertada, mas o shorts está folgado. Olhando bem, você tem boas pernas mesmo... – A dançarina repara no corpo da heroína.
– Eu vou encontrar algum colchão para você, de preferência um que eu não precise carregar até aqui. Inflável. Vou te visitar de vez em quando, trazer comida, essas coisas. De resto, eu acredito que você consegue se virar sozinha. Duvido que tinha todo o seu dinheiro guardado debaixo do seu travesseiro, na Casa do Pecado, então use-o.
Um breve silêncio se segue, enquanto Sombria veste seu manto novamente, e verifica seu celular. Fogosa permanecia ali parada, ainda olhando para a heroína soturna.
– Não parece uma piada? Eu sou uma stripper salva das chamas de um lugar chamado Casa do Pecado, traga para morar numa Igreja. – Comenta ela, abrindo um sorriso. –Então você é a Santa...
A vigilante permanece calada.
– ... Você nunca me disse o seu nome.
– Existe um motivo pelo qual eu uso máscara. – Responde Sombria, ainda ocupada com o celular.
– Sim, eu sei. Até entendo. Eu não quis dizer seu nome de verdade. – Ela faz uma pequena pausa. –... Pra evitar os stalkers da vida, a gente lá na Casa do Pecado usava apelidos... Outros nomes, pra não ter que usar o nosso. Que nem os vigilantes. O meu nome era Fogosa. Qual é o seu nome?
Carol então se vira para a moça, ajustando suas luvas.
– ... Sombria.
– Sombria? Eu não vejo muito de sombria em você, exceto talvez pelas roupas.
– Você não conheceu meu lado sombrio ainda.
A moça ri, caindo sentada na pilha de roupas, mordendo os lábios.
– ... Talvez eu devesse.
A ex-monarca caminha até a dançarina, se agachando e olhando em seus olhos. Ela penteia seus cabelos mais uma vez.
– ... Espero que nunca conheça. – Sombria fala, beijando-a na testa antes de se levantar e se encaminhar para baixo do buraco do alçapão.
– ... Santa Sombria. – Diz Fogosa, vendo a heroína partir. – ... Você é a minha Santa Sombria.
Sombria olha uma última vez para Fogosa, antes de jogar o capuz na cabeça e saltar pra fora do lugar. Ela caminha pelo teto da Igreja, olhando para a cidade abaixo dela. Ela para na beirada, permanecendo lá, como uma estátua, fechando os olhos e sentindo o ar da noite bater contra ela.
Ela então abre os olhos e pula, desaparecendo como um vulto na noite.
- Sombria
Re: [Moderador] - Sombria
20/05/15, 04:47 pm
Epílogo: O Meu Dudinha
Da Missão: O Meu Guri
Link: https://fabricadeherois.forumeiros.com/t605-bairro-favela-do-cabriao#26706
“Eu nem o vi caindo.”
Sombria descia o morro do Cabrião em velocidade, dando um mortal pra frente antes de cair em outro telhado de outro barraco, rolando no chão logo em seguida e continuando a correr, sem pausa. Ela parecia fugir de algo, apesar de não haver ninguém a perseguindo, exceto a sua própria raiva e frustração, aparente em seu rosto.
Ela segue pulando de barraco em barraco, até chegar perto da entrada da favela, aonde usa seu Yakan contra um poste pra se balançar de onde estava para o alto de um prédio menor, já no começo de Marechal Andrade. A ex-monarca ainda pula entre mais dois prédios antes de finalmente parar, ofegante. Ela se recosta no parapeito do telhado, passando as duas mãos no rosto.
“Eu não o vi caindo no chão. Ele só ainda estava de pé porque eu o havia colocado daquele jeito, quando eu o tirei da linha de fogo...
... Não. Eu não o tirei da linha de fogo. Fui muito lenta. Devia ter tomado mais cuidado, salvado ele primeiro, só então ter cuidado dos policiais... E do maldito garoto...“
– Merda... – Ela resmunga, tirando as mãos do rosto. É só então que ela percebe suas mãos vermelhas, sujas, do sangue do garoto, e agora, seu rosto também estava. Suas roupas, onde havia abraçado-o, também tinha sangue nelas. Somente nas partes vermelhas do seu uniforme é que o sangue não era aparente.
Mas estava lá.
“– Leona. Leona!
A jovem loira levanta o rosto, tendo divagado em seus pensamentos enquanto limpava o seu fuzil. Ela vê o homem de uniforme militar camuflado e boina vermelha à sua frente, ambos estando num pequeno acampamento, no meio da floresta fechada.
– Estaba soñando, Leona? Dormimos en la noche, no durante el día. – O homem diz, debochado.
– Que quieres? – A garota responde curto, claramente incomodada.
– Hahaha! No te preocupes, Leona. Yo no estoy aquí para molestarla. Helioz quiere hablar con usted en su tienda de campaña. Está orgulloso.
– ¿Y por qué sería? – Ela pergunta.
– Por lo que hizo aquí. Usted eliminó todo el campamento solo, ¿verdad? Los mató a todos?
A jovem fica calada, puxando o ferrolho da sua arma, preparando-a para o cartucho de balas. O homem continua a olhá-la, parado à sua frente, até que ela diz alguma coisa.
– ... ¿Eso es todo, Rivera?
– Hay sangre en la cara, Leona. – Ele avisa, apontando pra mancha de sangue no rosto claro dela. – No me limpiaré si fuera tú. Ayuda con tu historia.
A adolescente então consente com a cabeça, esticando um brevíssimo sorriso. Ela se levanta, ficando de frente para o homem, mostrando que usava o mesmo uniforme que o dele. Em um golpe rápido, ela dá uma coronhada na boca do mesmo, que espirra mais sangue na sua cara. Ele cai em dor, e a garota se abaixa, falando com ele.
– Y ahora tengo el suyo. Gracias, Rivera. – Ela fala, indo embora logo em seguida.
A garota atravessa o lugar, observando o movimento de diversos guerrilheiros como ela pelo acampamento, procurando e juntando objetos, verificando a área, e carregando os corpos de mutantes e humanos caídos na região, para outro lugar. Ela segue até um grupo de tendas, essas mais novas e bem cuidadas, que parecia ser onde os guerrilheiros estavam alojados.
– Señor. – Ela adentra uma das tendas já batendo continência, de frente para uma mesa de madeira com um mapa e estratégias militares. Atrás da mesma, havia um homem de costas, de estatura baixa, usando roupas militares, mas de patente mais alta. Ele se vira, demonstrando sua barriga avantajada, e o seu rosto de feições fortes e intimidadoras, com várias cicatrizes de cortes – uma delas atravessando a sua bochecha, pela sua cara limpa.
– Leona. Te dije que esperar a los refuerzos. – O general diz, com uma feição séria, que logo se transforma. – ... Pero parece que sólo tú eras lo suficiente.
– No fue. Fallé. – Ela responde, ainda em posição de continência.
– ... Resto, soldada. – O homem ordena. – No creo que entendí la razón de su fracaso, Leona. Estamos vivos, tú y yo, y los mutantes están muertos.
– Sí, están. Y todo el que estaba aquí antes que ellos.
O general a fita, com sua cara natural - a fechada -, e ela logo continua.
– ... Les disparé, General. Contra todos ellos. Acabo apreté el gatillo hasta que no había nadie de pie delante de mí. Cualquier persona.
Ele continua a olhá-la, observava a expressão em seu rosto meticulosamente, e então retruca:
– ... ¿Y te arrepientes? Matar a todos ellos?
Leona fica calada. Ela apenas olha pra frente, sem ter pra onde fixar seus olhos azuis.
– Hacemos lo que tenemos que hacer, Leona. Los mutantes no son nuestros únicos enemigos en esta isla--
– ... No señor. – Ela o interrompe, mantendo a postura inquebrável de soldada.
— No me arrepiento.”
Sombria estava sentada num dos bancos da Igreja de Santa Ângela, sozinha dentro do local. O silêncio era quase sagrado, enquanto ela permanecia de cabeça baixa, olhando para as mãos abertas em cima das coxas, cobertas de sangue. Lá em cima, num pequeno quarto no topo da Igreja, estava a (ex-)stripper Fogosa, a quem havia salvado fazia algum tempo, mas no momento, a ex-monarca parecia completamente desinteressada em subir lá, especialmente pra conversar.
O celular vibra num dos seus bolsos táticos, mas ela ignora, deixando parar. Após alguns momentos, o celular volta a vibrar novamente.
Após a quarta ou quinta vez, ela o pega, vendo quem é que ligava: Era um número que não estava na agenda. Mas ela sabia exatamente quem era.
Carol olha pra cima, observando a estátua da Virgem Maria por alguns momentos, até reunir coragem com um suspiro e se levantar, desaparecendo do local como um vulto.
A heroína soturna caminhava a passos rápidos, seu manto negro sendo o rastro do seu caminho através de corredores metálicos, sem nenhuma janela em lugar algum. Ela passa por alguns homens e mulheres, vestidos todos com uniformes modernos, quase militares, mas não pareciam ser de autoria do Exército Brasileiro. Depois de um tempo, ela passa por outras pessoas, essas não mais usando os tais uniformes, mas sim trajes “heroicos”, de vigilante. Sombria chamava a atenção por onde passava, todos cochichando aos cantos, olhando para a conhecida vigilante com reações diversas, todas assustadas e temerosas, que no momento não parecia estar feliz.
— Ai meu Deus, lá vem ela... – Comenta uma garota vestida de vigilante por onde ela vinha, deixando o outro vigilante com quem conversava de lado e baixando a cabeça, tampando o rosto. — Por favor passa reto, por favor passa reto, por favor passa reto...
Sombria parece nem olhar para o lado quando passa, deixando a garota – que queria que isso acontecesse –, meio encucada no fim das contas.
Ela então vira em mais alguns corredores e finalmente adentra em uma sala escura, com iluminação apenas em seu meio, onde se encontrava uma mesa redonda, com sete assentos a sua volta, a maioria deles já estando ocupado.
Haviam cinco pessoas sentadas ali, de trajes completamente diferentes umas das outras. Eles pareciam ser vigilantes também; mas ao contrário dos que estavam pelos corredores do lugar, eles não pareciam ser membros de uma festa à fantasia. Todos eles carregavam peso em suas figuras, sendo intimidadoras pra qualquer pessoa que as visse, e especialmente se soubessem do que eram capazes. Um homem com rabo de macaco e poderes animais, uma criatura reptiliana com poderes de Medusa, uma estátua guerreira de mármore viva, uma mulher capaz de controlar energia e um homem de capuz capaz de andar e falar com o mundo dos mortos.
Sombria era a única humana naquela sala. A única mortal perante deuses. Mas o Líder do Olimpo parecia não estar ali, e a vigilante nota imediatamente.
– Onde está o Jasão? – Ela pergunta, se aproximando do seu assento.
— Perae, lora... Não, num tá aqui no meu bolso não... – Comenta com um sorriso no rosto Fera, fechando o mesmo na hora que vê a cara da heroína soturna.
— Ele não pode comparecer, Sombria. Está ocupado em algum lugar, como sempre.
– Entendo. Vamos começar, então. – Ela diz, se sentando e arredando sua cadeira mais pra frente, sendo iluminada melhor pela luz no centro do lugar.
É então que eles todos parecem notar algo na heroína, Atômica se pronunciando novamente, preocupada.
— Sombria... Seu rosto está sujo... De sangue.
— ... Eu sei. – A mesma retruca, curto. Logo em seguida, ela abre o manto e coloca as mãos sobre a mesa, mostrando seus braços e torso ensanguentados. – ... Eu queria falar com vocês sobre isso.
— Carai, lora! Cê num tá morrendo não, né? – Diz o herói bestial, genuinamente preocupado.
— Ela não está. – Diz brevemente o homem de vestes xamânicas. — Esse sangue não é dela. É de outra pessoa.
– É de um garotinho. Uma criança. Não devia ter nem dez anos de idade.
A sala fica em completo silêncio, todos olhando para a vigilante.
— Ele foi baleado, múltiplas vezes, quando eu tentei intervir numa ação da polícia contra um bandido da favela. Outro garoto. Eu não consegui tirar ele a tempo. Eu nem mesmo o vi cair no chão antes de correr, antes que a polícia me visse.
— É entendível, Sombria. Casualidades ás vezes são inevitáveis, por mais que tentemos impedi-las. – Diz a guerreira de mármore.
— Não estou procurando por consolação, Capitólia. Os policiais atiraram porque alguém -- Eu, atirei bombas de fumaça contra eles. O garoto meliante também me viu. Essa morte não vai recair nos policiais. Vai cair na gente. Em todo vigilante mascarado de Nova Capital. – Responde Sombria. — ... A não ser que eu me denuncie à polícia.
Os membros da mesa redonda se entreolham.
— Não sei se isso irá resolver as coisas, Sombria. Pode até complicar ainda mais...
— Se a culpa cair em mim individualmente, eles não odiarão todo herói que subir aquele morro.
— Se confirmarem que foi de fato um VIGILANTE, então talvez aí eles realmente odiarão todo outro que subir aquele morro!
O silêncio volta ao local, Sombria observando a todos ali calada, pensativa. Ela consente com a cabeça, suspirando e levantando-se novamente da cadeira.
— ... Foi bom discutir isso com vocês. Obrigada. – A heroína soturna se vira, andando até a saída.
— Aonde está indo, Sombria? Nem começamos a reunião ainda.
— Me lavar...!
Sombria joga a água na cara, o sangue do garoto Dudinha escorrendo cano abaixo na pia do banheiro feminino do Sindicato. Ela estava sozinha lá, em frente ao espelho, sem a máscara e com a maquiagem da mesma ainda ao redor dos olhos, não se borrando com a água. Ela retira o celular do bolso e vai mexendo nele, até ficar paralisada, observando o número que estava na tela do seu celular.
“190”.
Ela batalha intensamente em sua mente sobre o que fazer. Faria uma denúncia anônima, informando o seu codinome heroico, e a sua descrição física, para que soubessem quem estava lá, quem havia jogado as bombas de fumaça. Mas, ao mesmo tempo, a Atômica e os outros haviam razão, e ela sabia disso, mesmo naquele momento.
Ela segue indecisa por mais algum tempo, até que, finalmente, ela mexe no celular novamente e bota-o no ouvido, ouvindo a discagem da ligação.
— ... Alô?
— Eu quero me entregar pra polícia. Um garotinho morreu nos meus braços hoje. Fui eu quem causei a morte dele.
— ... Então, talvez, você deveria parar de brincar de super-heroína, Carolina. – Responde a voz do outro lado do telefone. — Nós te demos uma vida normal.
— Vocês não me deram nada. Vocês tiraram tudo de mim. – A voz da heroína transbordava ódio em suas palavras.
— Nós já discutimos isso um milhão de vezes, Carol. E toda vez, você chora as mesmas dores. Você quer se entregar à polícia? Quer que todos descubram o seu passado? Pare de tornar a sua própria vida mais difícil.
— A morte desse garoto não pode simplesmente ser jogada prum canto desse jeito. Alguém tem que ser responsabilizado por isso.
— Você cresceu no inferno, Carolina. E você não só sobreviveu a tudo aquilo, desde o começo, mas como também se tornou a líder daquelas pessoas. Você transformou aquele lugar do zero, construindo um império do chão. Eu não preciso ter estado lá pra saber que, no meio disso tudo, centenas de pessoas morreram por sua causa. Por sua decisão, ou gritando o seu nome. Eu sei que tipo de gente você é; e gente como você não pode se abater pela morte de uma pessoa como pessoas normais se abatem. Será que você se importa mesmo com a morte desse garoto, Carolina, ou simplesmente com o fato de que VOCÊ FALHOU no serviço de salvá-lo?
— Eu me importo. Quero me importar. – Ela responde, encarando a expressão fria em seu rosto molhado, no espelho à sua frente.
Há um breve silêncio, antes de se ouvir a voz de Carol mais uma vez.
— ... Eu nem mesmo o vi cair no chão, morto, antes de fugir, de me safar de ser a culpada. Que tipo de psicopata eu sou? – Ela fala, em um raríssimo tom de voz derrotado, quase tímido. – ... Talvez eu realmente seja a tirana genocida que vocês foram prender aquele dia.
— ... Faça um favor a todos nós, Carol. Vá viver uma vida comum.
A chamada termina, e Sombria fica lá, olhando para o seu próprio reflexo no espelho.
Da Missão: O Meu Guri
Link: https://fabricadeherois.forumeiros.com/t605-bairro-favela-do-cabriao#26706
“Eu nem o vi caindo.”
Sombria descia o morro do Cabrião em velocidade, dando um mortal pra frente antes de cair em outro telhado de outro barraco, rolando no chão logo em seguida e continuando a correr, sem pausa. Ela parecia fugir de algo, apesar de não haver ninguém a perseguindo, exceto a sua própria raiva e frustração, aparente em seu rosto.
Ela segue pulando de barraco em barraco, até chegar perto da entrada da favela, aonde usa seu Yakan contra um poste pra se balançar de onde estava para o alto de um prédio menor, já no começo de Marechal Andrade. A ex-monarca ainda pula entre mais dois prédios antes de finalmente parar, ofegante. Ela se recosta no parapeito do telhado, passando as duas mãos no rosto.
“Eu não o vi caindo no chão. Ele só ainda estava de pé porque eu o havia colocado daquele jeito, quando eu o tirei da linha de fogo...
... Não. Eu não o tirei da linha de fogo. Fui muito lenta. Devia ter tomado mais cuidado, salvado ele primeiro, só então ter cuidado dos policiais... E do maldito garoto...“
– Merda... – Ela resmunga, tirando as mãos do rosto. É só então que ela percebe suas mãos vermelhas, sujas, do sangue do garoto, e agora, seu rosto também estava. Suas roupas, onde havia abraçado-o, também tinha sangue nelas. Somente nas partes vermelhas do seu uniforme é que o sangue não era aparente.
Mas estava lá.
“– Leona. Leona!
A jovem loira levanta o rosto, tendo divagado em seus pensamentos enquanto limpava o seu fuzil. Ela vê o homem de uniforme militar camuflado e boina vermelha à sua frente, ambos estando num pequeno acampamento, no meio da floresta fechada.
– Estaba soñando, Leona? Dormimos en la noche, no durante el día. – O homem diz, debochado.
– Que quieres? – A garota responde curto, claramente incomodada.
– Hahaha! No te preocupes, Leona. Yo no estoy aquí para molestarla. Helioz quiere hablar con usted en su tienda de campaña. Está orgulloso.
– ¿Y por qué sería? – Ela pergunta.
– Por lo que hizo aquí. Usted eliminó todo el campamento solo, ¿verdad? Los mató a todos?
A jovem fica calada, puxando o ferrolho da sua arma, preparando-a para o cartucho de balas. O homem continua a olhá-la, parado à sua frente, até que ela diz alguma coisa.
– ... ¿Eso es todo, Rivera?
– Hay sangre en la cara, Leona. – Ele avisa, apontando pra mancha de sangue no rosto claro dela. – No me limpiaré si fuera tú. Ayuda con tu historia.
A adolescente então consente com a cabeça, esticando um brevíssimo sorriso. Ela se levanta, ficando de frente para o homem, mostrando que usava o mesmo uniforme que o dele. Em um golpe rápido, ela dá uma coronhada na boca do mesmo, que espirra mais sangue na sua cara. Ele cai em dor, e a garota se abaixa, falando com ele.
– Y ahora tengo el suyo. Gracias, Rivera. – Ela fala, indo embora logo em seguida.
A garota atravessa o lugar, observando o movimento de diversos guerrilheiros como ela pelo acampamento, procurando e juntando objetos, verificando a área, e carregando os corpos de mutantes e humanos caídos na região, para outro lugar. Ela segue até um grupo de tendas, essas mais novas e bem cuidadas, que parecia ser onde os guerrilheiros estavam alojados.
– Señor. – Ela adentra uma das tendas já batendo continência, de frente para uma mesa de madeira com um mapa e estratégias militares. Atrás da mesma, havia um homem de costas, de estatura baixa, usando roupas militares, mas de patente mais alta. Ele se vira, demonstrando sua barriga avantajada, e o seu rosto de feições fortes e intimidadoras, com várias cicatrizes de cortes – uma delas atravessando a sua bochecha, pela sua cara limpa.
– Leona. Te dije que esperar a los refuerzos. – O general diz, com uma feição séria, que logo se transforma. – ... Pero parece que sólo tú eras lo suficiente.
– No fue. Fallé. – Ela responde, ainda em posição de continência.
– ... Resto, soldada. – O homem ordena. – No creo que entendí la razón de su fracaso, Leona. Estamos vivos, tú y yo, y los mutantes están muertos.
– Sí, están. Y todo el que estaba aquí antes que ellos.
O general a fita, com sua cara natural - a fechada -, e ela logo continua.
– ... Les disparé, General. Contra todos ellos. Acabo apreté el gatillo hasta que no había nadie de pie delante de mí. Cualquier persona.
Ele continua a olhá-la, observava a expressão em seu rosto meticulosamente, e então retruca:
– ... ¿Y te arrepientes? Matar a todos ellos?
Leona fica calada. Ela apenas olha pra frente, sem ter pra onde fixar seus olhos azuis.
– Hacemos lo que tenemos que hacer, Leona. Los mutantes no son nuestros únicos enemigos en esta isla--
– ... No señor. – Ela o interrompe, mantendo a postura inquebrável de soldada.
— No me arrepiento.”
Sombria estava sentada num dos bancos da Igreja de Santa Ângela, sozinha dentro do local. O silêncio era quase sagrado, enquanto ela permanecia de cabeça baixa, olhando para as mãos abertas em cima das coxas, cobertas de sangue. Lá em cima, num pequeno quarto no topo da Igreja, estava a (ex-)stripper Fogosa, a quem havia salvado fazia algum tempo, mas no momento, a ex-monarca parecia completamente desinteressada em subir lá, especialmente pra conversar.
O celular vibra num dos seus bolsos táticos, mas ela ignora, deixando parar. Após alguns momentos, o celular volta a vibrar novamente.
Após a quarta ou quinta vez, ela o pega, vendo quem é que ligava: Era um número que não estava na agenda. Mas ela sabia exatamente quem era.
Carol olha pra cima, observando a estátua da Virgem Maria por alguns momentos, até reunir coragem com um suspiro e se levantar, desaparecendo do local como um vulto.
***
Em algum lugar secreto...
A heroína soturna caminhava a passos rápidos, seu manto negro sendo o rastro do seu caminho através de corredores metálicos, sem nenhuma janela em lugar algum. Ela passa por alguns homens e mulheres, vestidos todos com uniformes modernos, quase militares, mas não pareciam ser de autoria do Exército Brasileiro. Depois de um tempo, ela passa por outras pessoas, essas não mais usando os tais uniformes, mas sim trajes “heroicos”, de vigilante. Sombria chamava a atenção por onde passava, todos cochichando aos cantos, olhando para a conhecida vigilante com reações diversas, todas assustadas e temerosas, que no momento não parecia estar feliz.
— Ai meu Deus, lá vem ela... – Comenta uma garota vestida de vigilante por onde ela vinha, deixando o outro vigilante com quem conversava de lado e baixando a cabeça, tampando o rosto. — Por favor passa reto, por favor passa reto, por favor passa reto...
Sombria parece nem olhar para o lado quando passa, deixando a garota – que queria que isso acontecesse –, meio encucada no fim das contas.
Ela então vira em mais alguns corredores e finalmente adentra em uma sala escura, com iluminação apenas em seu meio, onde se encontrava uma mesa redonda, com sete assentos a sua volta, a maioria deles já estando ocupado.
Haviam cinco pessoas sentadas ali, de trajes completamente diferentes umas das outras. Eles pareciam ser vigilantes também; mas ao contrário dos que estavam pelos corredores do lugar, eles não pareciam ser membros de uma festa à fantasia. Todos eles carregavam peso em suas figuras, sendo intimidadoras pra qualquer pessoa que as visse, e especialmente se soubessem do que eram capazes. Um homem com rabo de macaco e poderes animais, uma criatura reptiliana com poderes de Medusa, uma estátua guerreira de mármore viva, uma mulher capaz de controlar energia e um homem de capuz capaz de andar e falar com o mundo dos mortos.
Sombria era a única humana naquela sala. A única mortal perante deuses. Mas o Líder do Olimpo parecia não estar ali, e a vigilante nota imediatamente.
– Onde está o Jasão? – Ela pergunta, se aproximando do seu assento.
— Perae, lora... Não, num tá aqui no meu bolso não... – Comenta com um sorriso no rosto Fera, fechando o mesmo na hora que vê a cara da heroína soturna.
— Ele não pode comparecer, Sombria. Está ocupado em algum lugar, como sempre.
– Entendo. Vamos começar, então. – Ela diz, se sentando e arredando sua cadeira mais pra frente, sendo iluminada melhor pela luz no centro do lugar.
É então que eles todos parecem notar algo na heroína, Atômica se pronunciando novamente, preocupada.
— Sombria... Seu rosto está sujo... De sangue.
— ... Eu sei. – A mesma retruca, curto. Logo em seguida, ela abre o manto e coloca as mãos sobre a mesa, mostrando seus braços e torso ensanguentados. – ... Eu queria falar com vocês sobre isso.
— Carai, lora! Cê num tá morrendo não, né? – Diz o herói bestial, genuinamente preocupado.
— Ela não está. – Diz brevemente o homem de vestes xamânicas. — Esse sangue não é dela. É de outra pessoa.
– É de um garotinho. Uma criança. Não devia ter nem dez anos de idade.
A sala fica em completo silêncio, todos olhando para a vigilante.
— Ele foi baleado, múltiplas vezes, quando eu tentei intervir numa ação da polícia contra um bandido da favela. Outro garoto. Eu não consegui tirar ele a tempo. Eu nem mesmo o vi cair no chão antes de correr, antes que a polícia me visse.
— É entendível, Sombria. Casualidades ás vezes são inevitáveis, por mais que tentemos impedi-las. – Diz a guerreira de mármore.
— Não estou procurando por consolação, Capitólia. Os policiais atiraram porque alguém -- Eu, atirei bombas de fumaça contra eles. O garoto meliante também me viu. Essa morte não vai recair nos policiais. Vai cair na gente. Em todo vigilante mascarado de Nova Capital. – Responde Sombria. — ... A não ser que eu me denuncie à polícia.
Os membros da mesa redonda se entreolham.
— Não sei se isso irá resolver as coisas, Sombria. Pode até complicar ainda mais...
— Se a culpa cair em mim individualmente, eles não odiarão todo herói que subir aquele morro.
— Se confirmarem que foi de fato um VIGILANTE, então talvez aí eles realmente odiarão todo outro que subir aquele morro!
O silêncio volta ao local, Sombria observando a todos ali calada, pensativa. Ela consente com a cabeça, suspirando e levantando-se novamente da cadeira.
— ... Foi bom discutir isso com vocês. Obrigada. – A heroína soturna se vira, andando até a saída.
— Aonde está indo, Sombria? Nem começamos a reunião ainda.
— Me lavar...!
***
Sombria joga a água na cara, o sangue do garoto Dudinha escorrendo cano abaixo na pia do banheiro feminino do Sindicato. Ela estava sozinha lá, em frente ao espelho, sem a máscara e com a maquiagem da mesma ainda ao redor dos olhos, não se borrando com a água. Ela retira o celular do bolso e vai mexendo nele, até ficar paralisada, observando o número que estava na tela do seu celular.
“190”.
Ela batalha intensamente em sua mente sobre o que fazer. Faria uma denúncia anônima, informando o seu codinome heroico, e a sua descrição física, para que soubessem quem estava lá, quem havia jogado as bombas de fumaça. Mas, ao mesmo tempo, a Atômica e os outros haviam razão, e ela sabia disso, mesmo naquele momento.
Ela segue indecisa por mais algum tempo, até que, finalmente, ela mexe no celular novamente e bota-o no ouvido, ouvindo a discagem da ligação.
— ... Alô?
— Eu quero me entregar pra polícia. Um garotinho morreu nos meus braços hoje. Fui eu quem causei a morte dele.
— ... Então, talvez, você deveria parar de brincar de super-heroína, Carolina. – Responde a voz do outro lado do telefone. — Nós te demos uma vida normal.
— Vocês não me deram nada. Vocês tiraram tudo de mim. – A voz da heroína transbordava ódio em suas palavras.
— Nós já discutimos isso um milhão de vezes, Carol. E toda vez, você chora as mesmas dores. Você quer se entregar à polícia? Quer que todos descubram o seu passado? Pare de tornar a sua própria vida mais difícil.
— A morte desse garoto não pode simplesmente ser jogada prum canto desse jeito. Alguém tem que ser responsabilizado por isso.
— Você cresceu no inferno, Carolina. E você não só sobreviveu a tudo aquilo, desde o começo, mas como também se tornou a líder daquelas pessoas. Você transformou aquele lugar do zero, construindo um império do chão. Eu não preciso ter estado lá pra saber que, no meio disso tudo, centenas de pessoas morreram por sua causa. Por sua decisão, ou gritando o seu nome. Eu sei que tipo de gente você é; e gente como você não pode se abater pela morte de uma pessoa como pessoas normais se abatem. Será que você se importa mesmo com a morte desse garoto, Carolina, ou simplesmente com o fato de que VOCÊ FALHOU no serviço de salvá-lo?
— Eu me importo. Quero me importar. – Ela responde, encarando a expressão fria em seu rosto molhado, no espelho à sua frente.
Há um breve silêncio, antes de se ouvir a voz de Carol mais uma vez.
— ... Eu nem mesmo o vi cair no chão, morto, antes de fugir, de me safar de ser a culpada. Que tipo de psicopata eu sou? – Ela fala, em um raríssimo tom de voz derrotado, quase tímido. – ... Talvez eu realmente seja a tirana genocida que vocês foram prender aquele dia.
— ... Faça um favor a todos nós, Carol. Vá viver uma vida comum.
A chamada termina, e Sombria fica lá, olhando para o seu próprio reflexo no espelho.
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