Força Heroica: Morfo

Finalmente, o dia havia chegado. Tiago terminava de colocar o uniforme do time, nos últimos meses, nunca se dedicara tanto à algo. Como zagueiro no time do colégio, nunca havia se saído tão bem. Em sua posição, quase ninguém o derrubava, e em tudo que o jovem acreditava, era na sorte que a moeda velha que havia herdado de seu avô.
-- Ok! Vamos lá! -- diz o jovem, entrando no estádio de Nova Capital, que no dia, seria usado para o final do campeonato interescolar da cidade. Ele era o último de todos os times a adentrar o gramado.
Ambos os times aqueciam, para finalmente dar início ao jogo. Tiago percorria o campo fazendo alguns exercícios, depois de todos estarem prontos para a partida, o jovem repete o ritual que sempre realizava antes, retira a moeda velha do bolso do shorts, e aperta bem forte, desejando sorte para a final. Mas algo estava estranho, sem que o controle de Tiago, o ferro da moeda toma conta de seu corpo todo, fazendo o ficar em uma forma metálica e resistente, adquirindo inclusive as cores do objeto.
-- O que? O que está havendo? -- diz assustado com o que estava havendo. O jogador chama a atenção de todos presentes, e deixa o campo correndo.

-- O que está acontecendo comigo? -- corria por becos escuros após deixar o estádio. Tiago estava muito confuso, não sabia o que havia acontecido, aquilo nunca havia ocorrido, sua estrutura inteira havia modificado, sempre se sentia daquele jeito após apertar a moeda, mas visualmente, nunca nada mudava. -- Isso é algum tipo de piada? -- disse, encostando em uma parede de tijolos, deslizando até sentar no chão, exausto de tanto correr.
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2 meses depois.

-- Força Heroica?!? Sério?!? -- diz Tiago, sem acreditar nas palavras de Amanda, que acabara de lhe contar a novidade.
-- Sim, Tiago, você está dentro. -- sorriu olhando para o jovem. Nos últimos tempos havia treinado muito com seus poderes no Instituto, e havia obtido bons resultados.
-- Andei olhando sua ficha, tem se saído bem nos treinamentos, já está pronto. -- os olhos de Tiago brilhavam, à pouco tempo ele entrara no instituto, e graças à seu esforço finalmente, agora iria fazer parte da equipe.
Depois de uma pequena conversa com a Dra. ele se sentia devidamente recompensado, seus esforços haviam servido para algo, já controlava bem seus poderes, e sua meta era evoluir cada vez mais, agora ele fazia parte de algo realmente importante.

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Agora, chamado de Morfo, Tiago observava os hologramas projetados no anfiteatro, prestando muita atenção, aquela seria sua primeira missão. Ali, ao seu redor, observava alguns dos novos membros também, acompanhados de Nova e Solar. Após receber as instruções, Morfo se encontrava dentro do FHalcão 01, era uma nova jornada para o herói, tudo começava ali.

Morfo se encontrava em um banco logo ao lado da entrada da sala onde Solar e Nova permaneciam em uma reunião. Apoiado com os cotovelos na coxa, sem a máscara, ele refletia sobre a sua primeira missão.

- "Tudo isso... É grande demais..." - pensou consigo mesmo, na importância do Força Heroica.

- "Nova... Ela... Parecia reconhecer aquele símbolo..."

Tiago se recordava do momento em que derrotara o oponente gigante ao lado de Nova, e de uma espécie de tatuagem que o mesmo possuía no braço. A garota parecia já ter visto aquilo em algum lugar, e ele se lembrava de uma sigla logo abaixo do símbolo: P.E.G.A.S.U.S..

De repente, seu pensamento é interrompido pela saída de Coronel Perseu da sala, que parecia estar furioso. O jovem encostou na parede, assustado com a expressão do homem que saía da sala com um passo firme e pesado.

- O que será que..?

É interrompido novamente pela saída de Nova e Solar, veteranos da Força Heroica, que acabavam de ser dispensados por Dra. Amanda. Morfo se levanta do banco, caminhando logo atrás dos veteranos, com as mãos atrás da cabeça, trocando apenas três ou quatro palavras com Nova, enquanto Solar permanecia em silêncio, com os punhos cerrados. Morfo ia em direção à Arena, onde havia marcado com Roberto, o Arco.

Tiago se encontrava encostado na parede aguardando a chegada de Roberto. Ele havia marcado uma sessão de treinamento com Arco. Após alguns minutos, o herói chegava ao encontro de Morfo, uniformizado e já equipado. Os dois se cumprimentam e Arco abre a Arena com uma espécie de identificação por voz.

- Ok, Morfo. Vamos fazer uma simulação de salvamento, certo? Estarei junto com você, para ajudar. - dizia Arco inicializando o software pré-programado, voltando rapidamente ao lado de Morfo, enquanto o ambiente ia se mudando aos poucos.

Agora, o que antes parecia uma simples sala de treinamento era o terraço de um prédio no centro de Nova Capital. Arco ativa um projetor holográfico.

- Ao que tudo indica, há um grande incêndio em um prédio à umas duas quadras daqui, temos que chegar lá o mais rápido possível. - diz observando uma espécie de mapa do centro da cidade. Após "fechar" o holograma, o arqueiro puxa uma flecha com ponta de sua aljava, junto á um cabo de aço, atirando-a à um prédio mais baixo e distante.

- Vamos, temos que ser rápidos.

O herói coloca seu arco entre o cabo de aço que já estava fixado junto a flecha no terraço de outro prédio, saltando rapidamente realizando uma espécie de tirolesa, chegando no edifício menor em poucos segundos.

- Não pode ser tão difícil... - diz a si mesmo, já observando Arco, que havia tido sucesso. Procurou rapidamente algo que poderia servir para fazer o percurso deixado pelo arqueiro, encontrando um pequeno pedaço de corrente que havia sido deixado ali por um motivo desconhecido. Com a corrente em mãos, ele a passou dando a volta no cabo de aço, saltando e tendo sucesso assim como Arco.

O incêndio já podia ser visto pelos heróis, a distância entre o terraço em que estavam e as escadas de incêndio era pouca. Os dois percorrem o terraço rapidamente, e ao chegar ao precipício do mesmo, saltam ao mesmo tempo para as escadas de incêndio.

Arco subia as escadas na frente de Morfo, chegando até o andar onde o fogo se alastrava, vendo um grande jato de água entrando pela janela, devido à ação do corpo de bombeiros que tentava apagar o fogo.

- Vamos tirar as pessoas daqui, a equipe de bombeiros já está em ação para deter o fogo.

Morfo afirma com a cabeça, absorvendo o aço das escadas de incêndio antes de entrar no apartamento de fato. Com o corpo revestido de metal, a força e a resistência do herói parecia ter aumentado, e ele abria passagem entre alguns móveis para que ele e Arco pudessem avançar.

Ambos heróis socorrem diversos moradores do andar que haviam ficado impedidos pelo fogo, os encaminhando para as saídas de incêndio do edifício, que por pouco ainda detinham as chamas que haviam ali.
Missões de salvamento não pareciam o tipo predileto de Arco, mas como todo bom herói, tinham que estar preparado para qualquer tipo de situação, e é para isso que estava naquela simulação, treinando Morfo, para que pudesse sempre se sair bem no Força Heroica.

Finalmente, todos os moradores impedidos haviam sido socorridos, e aqueles com leves ferimentos já haviam sido encaminhados ao hospital. Uma espécie de alarme pode ser ouvido por Arco e Morfo, e o ambiente começou a se desfazer aos poucos, e eles voltavam à Arena.

Os dois foram até a cabine de controle, checar os resultados do salvamento.

- Muito bom, Tiago. Seus resultados estão progredindo. - diz ainda com um semblante sério, mas elogiando Morfo.

- Mas isso foi só uma simulação, e não estava em seu modo mais difícil.  - fala de forma irônica, apertando um último botão que desligava a Arena.

Morfo retirava sua máscara um tanto suada pelo calor que a simulação havia lhe causado, e Arco passava a mão pelo seu uniforme retirando algumas fuligens do mesmo. O software terminava de desligar, e as luzes do local se apagavam, enquanto uma porta se fechava atrás dos heróis que deixavam o local.

Quando a equipe de reforços a Força Heroica já havia tomado o controle da situação, Morfo caminhava extremamente dolorido entre as máquinas engarrafadoras, e um objeto em especial lhe chamara a atenção. A flecha anti-fogo de Arco, praticamente perdida entre cinzas e frascos vazios que haviam derretido pelas chamas, aquilo era o motivo de Morfo ainda estar ali, de ainda estar vivo. Ele se curva com dificuldades e apanha a flecha, segurando com as duas mãos, a olhando como um sinal de esperança.

Tiago se encontrava em seu dormitório no Instituto, logo após uma boa refeição no café da manhã, ele se preparava para uma bateria de treinamentos, quando nota a flecha em cima de sua escrivaninha. A cena da flecha cortando as chamas e o gás as extinguindo vieram mais à tona em sua mente, mas principalmente, da importância do disparo feito por Arco no momento certo, quando Morfo já não tinha mais ESPERANÇAS. Ele se levanta da cama e apanha a flecha com uma mão, enquanto a outra se estendia até um armário no canto do cômodo, feito de aço e vidro, dando a aparência de uma vitrine. Tiago abre a porta esquerda do mesmo e coloca o objeto em um suporte de ferro, a deixando inclinada.

-- Pronto, você vai ficar boa aqui.

Sorriu fechando a porta do armário e observando a flecha por mais alguns instantes, era como um souvenir, ele terminava de por o uniforme quando escuta um sinal ecoar pelos corredores do Instituto Arthur Andrade, só lhe faltava vestir a máscara, e ele sai em disparada batendo a porta do quarto, mais um dia de treinamento.

"Um trilhão de coisas passavam na cabeça de Morfo, um sentimento atrás do outro. Cada vez mais o parasita tomava controle, e muita informação fervilhava dentro de sua mente. Dor, ódio, tudo aquilo era terrivelmente agonizante. Parecia que sua cabeça iria explodir. Suas memórias eram confusas, como se tudo estivesse embaralhado, Dra. Amanda, Arco, Destro, Simbiótico, e então nada mais fazia sentido, a não ser um estranho ódio por Solar que nem ele mesmo sabia de onde vinha, mas ele sentia, e aquilo queimava como... Fogo.

Parecia não ter mais chances, a morte parecia lhe acertar em cheio, molécula por molécula, ardia e queimava, virava cinzas, e ele compreendia tudo, sentia na pele o que o parasita sentira. O que restara da simbiose antes usada por Vinícius, por Simbiótico, havia ressurgido de seus restos, e ele procurava vingança, a morte de Solar saciaria sua fome, o prato que se come frio. Bem como ele, o pirocinético seria reduzido ao nada, ao zero. A simbiose havia sequestrado rapazes, semelhantes ao herói veterano, mas mesmo que diferentes eles teriam sua utilidade, e assim deixara parte de si mesmo vivendo como parasitas, e agora ele seriam usados, chegara a hora da luz deixar os olhos de Solar."

Depois dos acontecimentos do dia 13, Tiago permanecia muito pensativo em relação à tudo que acontecia, a simbiose, Solar, e até mesmo a morte de Destro, que ainda era um acontecimento recente apesar de tanta coisa acontecer. Felizmente, Erick estava de volta, não havia morrido como todos pensavam, e aquilo dava um conforto para Morfo, mas também o acordava para o risco que corriam no Força Heroica.

Caminhando pelos corredores do instituto, uniformizado, ele visualiza alguns vídeos em seu visor, os mesmos que foram mostrados por Fabricadora no dia da missão, e a frase que aparecia na maioria das matérias se fixava em sua mente:

“Força Heroica? Heróis ou Vilões?”

Para ele, aquilo era ridículo, o Força Heroica era algo que significava muito não só para Tiago, mas para todos ali, era um momento difícil.

- Vilões? Isso só pode ser brincadeira!

Dá um soco na parede, com raiva, e de repente seu corpo se transforma em metal de forma extremamente instantânea.

- Droga... Ainda não me acostumei com isso...

- Pra piorar, ainda tô com esse problema, maldita sorte... Só espero que a Dra. Amanda consiga descobrir o que é isso...

Dizia ironicamente, o contato com a simbiose parecia ter causado um efeito colateral em seus poderes, e perdera totalmente o controle do que absorvia. Mesmo com uma série de exames feitos pela Fabricadora, ainda não sabia-se ao certo o que havia ocorrido, mas torcia para que o problema fosse logo resolvido.

O corpo metálico refletia as luzes do corredor do instituto, por algum motivo ele não conseguia sair daquela forma, e ao pisar em uma faixa de borracha que dividia duas portas, sua pele escurecera rapidamente e ficava mais elástica.

- Puta que o pariu...

Ele continua caminhando, e mesmo irritado, tentava rir de tudo aquilo, ou ao menos ignorar para que não enlouquecesse, e então sente uma mão leve em seu ombro de borracha.

- Calma Tiago... Vamos achar uma solução.

O jovem se vira e vê o rosto de Amanda, que tentava acalmar o mesmo.

- Eu sei Doutura... É só que...

- Todos estamos passando por tempos difíceis, mas as coisas melhoram, nada é por acaso.

- Vamos continuar com os exames, paciência.

As palavras de Amanda pareciam confortar Morfo em meio de tudo aquilo que fervilhava em sua cabeça, e seu corpo volta à forma normal lentamente. Eles prosseguiriam com os exames, era uma questão de tempo, tempo e muita paciência. Continuariam tentando.