T03E08 - Coração de Pedra

O Porão, 9:31 PM

A casa de shows conhecida como “O Porão” está relativamente cheia. Muitos jovens e até alguns coroas infestam as mesas e as paredes do local de qualidade e segurança duvidosas.

Jaquetas de couro, correntes, o fedor da gasolina se misturando ao de wisky barato. Frequentado por gangues de motoqueiros e artistas boêmios, o porão era o local onde qualquer banda de rock nascida em Nova Capital deveria tocar ao menos uma vez.

- A gente devia ter ido junto com os outros.

- O Road é pra playboys, Davi.

Edson da um tapa nas costas do jovem Davi, fazendo entrar no local.

- Além do mais, é um dos pouco lugares da cidade que eu posso entrar sem que as pessoas fujam.

Edson cumprimenta algumas pessoas e adentra a fumaça do local. Carlos, Tiago e Nova se aproximam e arrancam um suspiro de Davi.

- Gente, vamos embora enquanto da tempo?

Carlos fala aos demais, meio incomodado com visual do local.

- Eu gostei.

Nova segue andando sozinha pelo local deixando os demais.

- Claro, até porque você provavelmente é a pessoa mais perigosa do local.

Tiago fala consigo mesmo encarando os demais indivíduos do local.

- Vem negada, já achei uma mesa.

Edson empurra os três até uma mesa próximo ao palco, onde uma banda prepara os instrumentos e aparelhagem de som para o próximo show. Os quatro se sentam, uma garçonete vestida em couro cochicha algo ao ouvido de Edson, os dois riem olhando os demais membros da Força Heróica sentados a mesa.

- E vocês, meninos, o que vão querer?

- Éee...

- Chopp, pro três, mas trás daquele barril lá detrás, não é daquela batizada que vocês vendem pros motocas.

- Mas..

A garçonete vai embora se desviando das pessoas pelo caminho.

- Você viu a Nova por aí?

- Acho que ela fez um amigo ali….

Um homem careca, gordo, de barba ruiva, de quase dois metros está agarrando o braço de Nova.

- Olha.. ela não precisa de ajuda?

Nova afunda o grandalhão no chão com um movimento de braço. Um círculo se abre na multidão, o silêncio é imediato.

- Nada..

Edson se encosta na cadeira.

O gigante se levanta frente a Nova, como se nada tivesse acontecido, uma chama se acende a cabeça do grandalhão, assim como o vermelho nos olhos. A banda começa a tocar um ritmo rápido e sujo, misturando punk com metal pesado, enquanto uma mulher de cabelo moicano se aproxima girando uma corrente soltando faíscas. Mais dois indivíduos se juntam a Gangue, frente a Nova.

- É, talvez ela queira uma mãozinha...

- Você tá bem mesmo? Se quiser vou com você…   – Pergunta Tubarão segurando as mãos de sua amada atlante.
- Eu já disse que tô bem!  Foi só um ferimento superficial.... E eu já me machuquei bem pior outras vezes...  Responde Talla aparentemente nervosa com o excesso de preocupação do híbrido.
- Ok, é que eu fiquei preocupado...
- A preocupação agora é outra, o povo Atlante está sendo cada vez mais exposto, e não temos ideia onde isso pode chegar...
-Fica tranquila, aqueles baleeiros vão pra uma prisão de segurança máxima da onde não vão sair tão cedo, nenhum ativista viu vocês, e meus amigos são confiáveis...
-Amigos que poupam assassinos covardes? Não queríamos aqueles monstros presos, eles tinham que levar os segredos que sabem para suas covas, agora somos reféns desta situação!
Ed para por alguns segundos, abaixa a cabeça e respira fundo.  
-Eu te entendo, mas não podemos sair por ai matando todo mundo, não é assim que as coisas funcionam! Não é assim que a Força Heroica trabalha! E nós não deixaremos que nada aconteça a vocês.... eu não deixarei que nada aconteça a você! Os dois se abraçam fortemente.

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O Porão era o tipo de buraco sujo onde as pessoas mais tranqueiras e metidas a “barra pesada” já haviam passado pelo menos uma vez na vida.
O publico do local era basicamente um misto entre motoqueiros, punks, metaleiros, alcoólatras, drogados, prostitutas, meta-humanos, ex detentos, foragidos e qualquer outro tipo de coisa ruim que ande pelo submundo a fora.

Apesar de tudo isso, era um lugar divertido. Beber cerveja barata, curtir um som sujo de alguma banda de garagem recém formada, ver ou até mesmo participar de alguma briga dentro do recinto eram algumas das atrações da casa, e Ed se divertia com isso tudo.

O rapaz frequentava o local antes de entrar para a Força Heroica,  e após entrar no grupo de jovens heróis,  aos poucos o hibrido foi se afastando do Porão,  mas sempre que podia dava uma passada pelo local apenas para não perder suas raízes.

E aquela noite Tubarão queria compartilhar um pouco da emoção de estar no lugar mais underground de NC com seus colegas de equipe.  

O rapaz não imaginava o quanto eles ficariam intimidados, afinal já haviam enfrentado vilões, catástrofes e entre outras coisas piores.
Mas estavam ali, praticamente tremendo. Todo aquele cenário, as pessoas estranhas, a música pesada, era uma das coisas mais intimidadoras que aqueles jovens viram na vida.

Nova era a unica que parecia não se importar, até alguém mexer com ela. Azar o do cara todos pensaram.
Bem, nem tanto.  Aparentemente ele é membro de alguma gangue de motoqueiros meta-humanos. E essas gangues geralmente só conhecem uma linguagem: A da violência!


- É, talvez ela queira uma mãozinha...   Tubarão se levanta e puxa a mesa a erguendo acima da cabeça, seus colegas olham assustados.

-Vocês vão ficar ai só olhando igual umas maricas? Briga de bar!!!...   Grita o hibrido enquanto arremessa a mesa em direção aos esquisitões que estavam a frente de Nova.

Nova parecia animada. Iluminada de laranja pelos postes das ruas, ela andava ao lado de Tiago e logo atrás de Davi, Carlos e Edson, quem liderava o pequeno grupinho. Ninguém poderia ter aceitado o convite de sair mais rápido do que ela, especialmente com todos os seus amigos. Não demora muito até que eles chegam no suposto bar o qual Edson havia mencionado.

Eles adentram a fumaça e o coquetel de cheiros do lugar cheio de gente, que consome os sentidos da moça e imediatamente rouba sua atenção. Por causa de suas viagens, ela não era estranha para lugares como aquele; mas ela sabia que cada um desses lugares era o seu próprio habitat único, com pessoas diferentes.

Ela ouve sem prestar muita atenção as palavras dos companheiros,incertos do local, enquanto eles tentam avançar pelo lugar apertado até alguma mesa, até que Carlos para a sua frente.


- Gente, vamos embora enquanto da tempo?

A super-moça põe a mão no ombro do rapaz, passando por ele logo em seguida.


- Eu gostei.


Nova continua avançando pelo lugar, olhando pra tudo. Ela recebe e troca olhares com diversas pessoas no lugar, sorrindo as vezes. Olhando-a de longe, ela poderia talvez até mesmo se passar por alguém daquele lugar: ela usava sua boa e velha jaqueta de couro, agora rebitada de cima a baixo, e uma calça jeans surrada - a maioria das roupas e adornos que usava sendo as que recebeu ou comprou no tempo que esteve fora do Instituto; e era possível ver que aquele tempo fora a havia transformado.
Ela havia deixado de ser a garota tímida de antes, mas continuava curiosa, talvez ainda mais agora, curiosa pelo mundo, curiosa em conhecer lugares novos e pessoas novas.


Continuando a andar enquanto prestava atenção na banda tocando, ela logo tem seu braço puxado por um homem alto, careca e mais pesado do que o normal. Apontando seus olhos azuis pra cima e sorrindo simpaticamente para o mesmo, ela tenta se desvencilhar sem esforço, ainda tentando dar a chance para que aquilo fosse apenas um engano ou algo do tipo, mas ela logo vê que era exatamente o que ela pensava que fosse.


- Você é um "daqueles", né? - Ela diz, ainda sorrindo.

A moça parece que vai falar mais alguma coisa, mas em um movimento rápido com o mesmo braço agarrado, ela enterra o homem no chão, formando um círculo ao seu redor e causando silêncio. Quando ela começa a se virar pra continuar andando, Nova nota o homem se levantar novamente, agora acendendo sua cabeça em chamas, enquanto o que parecem ser companheiros do grandalhão se aproximam dela, formando um grupo de quatro pessoas à sua frente.

Nova olha para o grupo, sem medo, e dando uma olhadela rápida ao redor, ela balança a cabeça, parecendo finalmente entender que tipo de bar era aquele.

- Legal. Eu realmente gostei desse bar! - Ela diz, logo antes de avançar com um chute pra cima do grandalhão.

Instituto Victoria Cardoso, Dormitórios
8:57 PM

Tiago terminava de se arrumar. - Road? Pff até parece. - passou o cinto pelas alças da calça, o fechando na fivela. - Eu vou é pro Porão! - passou a mão pela estante apanhando sua carteira e chaves, por último, pegou uma latinha de metal que carregava consigo.

Caminhando pelos corredores do instituto em direção à garagem, apanhou seu celular e enviou uma mensagem à Carlos, Davi, Nova e Ed, em um grupo do whatsapp. "Tô saindo já, a primeira dose é por minha conta, bora!". Retornou seu celular ao bolso e ajeitou sua jaqueta de couro marrom.

O Porão
9:31 PM

Chegando ao local, ele caminhava ao lado de Nova, que demonstrava empolgação com a noite, o que agradava Tiago de alguma forma. Enquanto Ed liderava o rolê, Tiago caminhou pouco à frente enquanto esfregava alguma coisa em sua mão, discretamente. Retirou um pedaço de seda de seu bolso e passou a enrolar o material esfarelado de sua mão no mesmo. Terminando o serviço rápido, colocou a obra de arte atrás da orelha, como alguns faziam com cigarro.

Passando pelo local, no meio da fumaça, não tirava os olhos da algumas gatas no canto do Porão que pareciam tomar algumas doses. Antes que pudesse decidir algo, Ed pede chopp para toda a equipe. - Tudo bem, chopp então! - relaxou na mesa, esperando seu copo.

- E aí Carlos, vamo estorá essa bomba? - sorriu olhando para Davi também, que pareceu não entender o termo. Observou Nova por alguns segundos, quando a mesma começava a se envolver em algum tipo de encrenca. - A gente não pode ter uma noite de curtição sem brigas? - se levantou apanhando seu baseado, acendendo-o rapidamente o puxando. Prendeu a respiração alguns segundos, e soltou a fumaça. - Ahhhh, vamo nessa! - tornou seu braço esquerdo em metal apanhando sua latinha no bolso.

Assim que a banda começou a tocar um ritmo pesado de metal, Tiago se agitou e tomou uma bela golada no chopp gelado. - BATE CABEÇA! - gritou em direção à briga que se iniciava com Nova e os outros.

Davi não queria, mas fora arrastado até aquela casa de shows. O problema não era o estilo do local ou das pessoas, porque o garoto não tinha preconceitos, mas era justamente por saber que sempre encontraria pessoas que gostam de violência como hobbie.

Mas o único ponto positivo era que ali não tinha vrg de suas marcas espalhadas pelo corpo. Eram como tatuagens em alto relevo, quase iguais a de muitos por ali, e por isso deixou em casa sua jaqueta e optou somente por uma típica calça jeans desbotada e uma camisa branca surrada.

Sentou-se a mesa, sério, olhando para o todo, sem prestar atenção no que diziam seus colegas. Só se concentrou na conversa quando falaram sobre Nova. O garoto rapidamente se virou para onde olhavam e viu a garota derrubar um gigante.

Davi revirou os olhos, já sabia o que viria a seguir. Uma roda se formou, e a gangue do homem vem a seu favor. Edson é o primeiro a se levantar, eufórico e chamando os outroa três companheiros para a briga. O garoto careca olha para seus dois companheiros ainda sentados, e com um dar de ombros ainda sério se levanta da cadeira tranquilamente.

Ele leva a mão até os bolsos e se assusta. Se recorda que havia deixado os bastões no instituto, afinal não seriam necessários, ledo engano. Olhou ao redor, procurando qualquer coisa que pudesse substituir sua arma.

Davi não gostava dessa idéia de violência apenas por prazer, mas também não gostava da idéia de deixar seus amigos na mão. Pensando nisso, o garoto só iria atacar os membros da gangue a fim de dar cobertura a seus amigos.

-Então... Porão né? O nome até que combina...

- E aí Carlos, vamo estorá essa bomba?

-Eu não uso essas paradas... Mas o chopp eu aceito, e... eu acho melhor não dar chopp pro Davi.

Carlos estava um tanto que sem graça, talvez fosse à falta de costume por nunca ter frequentado esse tipo de lugar, ele olhava pra todos os cantos tentando escapar de uma vista mais desagradável que a outra até se dar conta da falta de alguém...

- Você viu a Nova por aí?

Ed mostra onde ela esta, aparentemente ela precisava de ajuda, um homem que mais parecia um ogro queria agarra-la a qualquer custo.

- Olha... Ela não precisa de ajuda?

Em um piscar de olhos, o homem estava com a cara no chão, juntamente com seu orgulho, Carlos não perde tempo e cria construtos de óculos 3D e um balde de pipoca.

-Essa treta eu quero ver de camarote.

Mas junto com o volume do som da Banda, os problemas pareciam ter aumentado, o homem que nova tentou nocautear era um meta-humano e ele não era o único ali, pro azar da Força Heroica.

Com uma pequena provocação de Ed, Carlos desfaz os óculos e o balde de pipoca e se levanta criando uma arma em cada mão, mais precisamente duas  Colt Python, e aponta na direção dos badernistas, preparado pra atirar balas de impacto.

A mesa de madeira voa e explode na cabeça de um dos adversários de Nova, que cai alguns metros depois, escorado em algumas das testemunhas que começam a se socar iniciando a pancadaria geral no Porão.

A musica sobe meio ao caos, Carlos dispara algumas balas de impacto em um dos outros indivíduos, que se desvia rapidamente. O asiático se move rapidamente entre as pessoas sumindo na multidão, Carlos não consegue disparar sem acertar as demais pessoas.

Tiago e Edson partem para cima dos demais. Uma corrente enrola no antebraço do Tubarão e uma descarga elétrica o enfraquece, a mulher de moicano esta na outra ponta rindo e lambendo a corrente.

Tiago soca o outro rapaz, ruivo e baixinho no centro do rosto. O braço metálico transpassa a cabeça do jovem, ocasionando um espanto na multidão. Assustado, Morfo puxa o braço rapidamente que volta impregnado de uma massa verde de aspecto gelatinoso. O rombo na cabeça do ruivo se fecha como se nada tivesse acontecido, ele golpeia Tiago com os dois braços em forma gelatinosa, prendendo o jovem a uma das colunas do local.

Davi derruba várias pessoas que se aproximam dele e de Carlos durante a luta. Ele pega no chão dois pedaços de madeira que parece pertencerem a uma messa recém quebrada. O asiático se aproxima dos dois fazendo movimentos circulares, sempre se mantendo atrás de pessoas para não ser atingido.

O chute de Nova para no pescoço do grandalhão. O impacto arranca lascas da pele do careca, fazendo dissipar como cinzas revelando uma pele negra com fibras incandescentes como lava.

O golpe o faz se mover um pouco, mas não suficiente para cair. Ele retorna com uma baforada de fogo que ilumina o local em direção a Nova que levanta as mãos em defesa a chama intensa. O fogo queima parte do local, atingindo parte do bar, chão e colunas. Nova joga o que restou da jaqueta no chão.

Antes que possa contra-atacar ela ouve o comunicador intra-auricular chiar fortemente. Edson, Carlos e Davi também notam que seus comunicadores estão inativos. O incêndio se intensifica no Porão, gerando pânico no publico.

O braço de Tiago havia atravessado a cabeça do ruivo, e logo em seguida, sujo daquela gelatina verde, ele estava preso em uma das colunas do bar. Morfo se contorcia para sair da situação, estava desesperado, e logo um incêndio se incia dentro do bar.

Enquanto o público causava a agitação, a briga continuava, e Morfo decidiu improvisar. - De igual pra igual. - tentava absorver aquela gelatina, até que em alguns segundos ele parecia uma grande geleca. Caminhou em meio ao salão, se desprendendo da coluna, se afastando do fogo que se iniciou. Saltou para o teto, grudando no forro de madeira do Porão. - Que meleca!

Morfo observou seu oponente em meio a confusão, e se preparou para atacar, levou sua mão verde até um prego encontrado no teto e voltou à forma de metal. - Você é meu, gosmento! - desgrudou do teto logo após se transformar, formando duas espécies de  lâminas centrífugas em suas mãos.

Tiago avançaria contra o ruivo cravando seus braços no peito do baixinho, gerando um movimento rotacional para combater os poderes do membro da gangue. - Sobremesa!

A corrente enrola no antebraço de Tubarão e uma forte descarga elétrica passa por ela chegando até o corpo do hibrido, que sente o golpe.

Ele se contorce, meio sem entender o que havia acontecido e ao olhar a outra ponta da corrente percebe uma mulher de moicano lambendo a corrente e rindo daquilo tudo...

-Uma corrente... elétrica heheh - Ed fala sozinho ironizando a situação. Com o som alto ninguém deve ter ouvido seu comentário.

O grandalhão ja havia se metido em outras brigas naquele bar, a maioria com motoqueiros preconceituosos ou grupos de bêbados, já havia brigado com alguns meta-humanos classe D ali também, mas esses pareciam diferentes, e o pior eram um grupo.

Após se recompor do "Blitzkrieg Bop" que acabara de sofrer Ed segura fortemente a corrente, as cargas elétricas que passavam por ela ainda lhe causavam dor, mas ele precisava resistir. O grandalhão serra dos dentes, e com um único e rápido movimento ele puxa a corrente para si.

Sua intenção é fazer um ataque ao estilo "Scorpion", ou pelo menos desarmar a garota, para que a luta fique um pouco mais justa.

Davi permanecia sério com os dois pedaços de madeira nas mãos. Cada homem derrubado ele se certificava de que permaneceria no chão. Ele não estava nem um pouco empolgado com aquele briga sem sentido, e tinha medo de imaginar como ela terminaria.

Logo após o início do incêndio, o garoto percebeu que aquela briga já estava indo longe demais. Olhou ao redor para as pessoas em pânico e se lembrou de um incidente antigo, envolvendo incêndio numa boate. Seu foco ali não era mais a briga, mas sim as pessoas.

- Carlos, por favor, me dá cobertura. - O garoto gritou para o companheiro, esperando que ele o protegesse enquanto estivesse vulnerável.

Davi queria usar seus poderes de radiestesia para encontrar a energia da água correndo pelos encanamentos, para tentar estourar algum deles. Iria avisar seu Arsenal para que ele pudesse ajudar.

Mas ao mesmo tempo, Davi não se esquecia do asiático que tentavam enfrentar juntos. E como ele estava rápido demais para a dupla, o garoto já estava traçando seu plano.

Iria se concentrar para ficar intangível e invisível, e iria esperar pelo momento certo até que pudesse reaparecer e atacá-lo por trás.

Tudo era estranhíssimo, assustador para a jovem. Agachada em cima do que parecia ser uma cama hospitalar contra uma parede, a garota de olhos azuis claros podia ver apenas luzes fortes por todo o lado da pequena sala, apontados para ela, também sentindo frio nas pernas: vestia apenas uma camisola de hospital por baixo de uma jaqueta de couro, sobre seus ombros. Ela ouve o barulho da porta se abrindo e imediatamente se encolhe como uma tartaruga, tomando a posição fetal.

Espiando por cima dos joelhos e dentre os longos cabelos escuros, a garota observa uma mulher de roupas executivas e um homem de sobretudo branco adentram o lugar junto de um homem de terno preto e branco e óculos escuros. Os três param em frente à jovem, observando-a.

- Quem é ela?

- A gente não sabe. Nenhum documento, impressões digitais não batem com nenhum banco de dados, nem mesmo reconhecimento facial. Oficialmente, ela não é ninguém.

- Oi. - O acompanhante jovem de cabelos e sobretudo brancos, que parecia ser alguma espécie de doutor, abre um sorriso simpático ao se aproximar da jovem. A garota continua na mesma posição, sem responder nada, rosto metade escondido atrás dos joelhos, enquanto apertava a jaqueta de couro.

- Eu não faria isso se fosse você. Ela quebrou o braço de três de nossos homens, e arrancou alguns pedaços de carne de outros dois com os dentes.

- Ela é habilidosa?

- Eu diria que ela não é habilidosa em nada, e sim forte. Mais forte do que qualquer ser humano eu já vi. Fez um amassado na van tentando pular pra fora. Os homens chamam ela de "novinha".

- Por que da jaqueta? - Pergunta o doutor, intrigado.

- É a razão pela qual ela quebrou todos aqueles braços. Algum policial deu a jaqueta pra ela quando a acharam, e agora ela se apega como se fosse morrer sem ela.

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Nova se defende ao perceber que algo estava para sair da boca do grandalhão, e quando percebe, é engolida em uma baforada de chamas. A moça aparece novamente, se desvencilhando do seu pedaço de roupa que ainda estava em chamas. Quando ela percebe, porém, era a sua jaqueta, a sua velha jaqueta inseparável, agora apenas poucas tiras de couro queimadas.

Ela havia se esquecido momentaneamente que usava roupas civis, e agora permanecia parada, em choque, olhando para o que restava da sua jaqueta no chão.

- Não... - Um gemido murmuriado sai da boca de Nova, que se agacha pra pegar as tiras queimadas da sua jaqueta.

Ela começa a respirar forte, olhos marejando, começando a querer chorar. Olhando para suas mãos trêmulas, ela sentia algo preenchendo o seu corpo, algo familiar, mas que sentia raramente. Ela ouve o seu comunicador chiar, e imediatamente arranca ele pra fora, o jogando no chão com toda força.

- Não, não, não... Você destruiu ela! VOCÊ DESTRUIU ELA!

A super-moça se vira para o grandalhão novamente, apertando o punho cerrado que segurava as tiras com tanta intensidade que estalava seus próprios dedos. Ela agora parecia furiosa, mais do que provavelmente qualquer pessoa já a viu antes, sentindo como se estivesse pra explodir de dentro pra fora.

- GRRAHHHHHHHHHHHH!!!

Nova se joga em um super-pulo contra o tronco do careca meta-humano, dando socos e pontapés com toda a sua força logo em seguida, cega pela raiva que sentia no momento, enquanto parecia lentamente se cercar de alguma espécie de gás luminoso branco, como plasma.

O asiático se move rapidamente e com um chute quebra o nariz do jovem Carlos. As pistolas de energia somem de suas mãos enquanto ele cai desacordado com o sangue fluindo do corte aberto. O adversário se desvia de um golpe de Davi e tenta revidar, o soco transpassa o ar e o jovem some. Assustado ele procura por Espectro meio a multidão que se amontoa procurando as saídas do local.

Encurralado, Tiago absorve a forma gelatinosa, logo seu corpo se mistura ao material verde, aumentando a massa. Ela de desprende dos braços do Ruivo que voltam ao formato original. Morfo se move pela coluna atingindo o teto enquanto o ruivo observa desconfiado o próximo passo de Tiago, que desce em velocidade na forma de metal, os braços giram como centrífugas perfurando o corpo e jorrando o material viscoso para todos os lados.

Tubarão se levanta cerrando corrente em suas mãos, a eletricidade aumenta, mas Edson apenas sorri, sua adversária não faz o mesmo. Ele a puxa com força fazendo a mulher voar pelo salão de encontro ao seu antebraço, apos o golpe o corpo cai desacordado sobre algumas mesas reviradas.

O publico se amontoa fugindo do incêndio. Nova parte pra cima de seu adversário que tenta reagir, em vão. Os golpes acertam o rosto, as costelas, o estômago, joelhos, um após o outro. São tão rápidos que ele mal consegue sentir um antes de levar outro. Um soco mais forte atinge na boca do estômago. O grandalhão cai de joelhos, ele infla o peito e enche as bochechas.

Neste momento Nova tranca a mandibula do grandão com as duas mãos, fazendo-o se debater. Um brilho acende seus olhos, assim como a pele ficando avermelhada. Ele cai desacordado com fumaça saindo pelos ouvidos.

O encanamento estoura, jorrando água para o local incendiado, abaixando lentamente as chamas. Davi surge ao lado do local, cansado. As últimas pessoas conseguem sair do Porão, que está cercado de pessoas desmaiadas e pela bagunça da luta.

A Banda dá seu acorde final, os músicos arrumam seus instrumentos e saem do palco como se fosse um dia normal de trabalho. Apenas uma pessoa bate palmas que ecoam de uma parte isolada em um dos cantos do porão.

- Excelente!

O sujeito se levanta de sua cadeira. O terno elegante e os óculos finos de armação dourada denotam classe demasiada para um local como o Porão, muito menos depois de uma briga daquelas.

- Em meu país ter muita lugares assim, mas não tanto como este!

- Aqui em sua terra, as coisas são mais fáceis quando se tem intelecto e dinheiro. Pode comprar pessoas, não precisa se envolver...

O sotaque europeu e a arrogância são estranhamente familiares. Ele caminha pelo local sutilmente, levando consigo apenas um baralho que passa de uma mão para outra, as cartas são maiores que um baralho comum.

- Mas a resultado pode ser… duvidoso. Confesso que fiquei surpreso. Já vi vários vídeos de vocês, mas ao vivo é muita diferente.

Ele olha para Tiago abaixa os óculos e ri. Morfo só repara agora que está sem roupas. Ele pega um avental do chão e amarra na cintura. Os passos lentos do estrangeiros são o único barulho do local, fora sua voz.

- A briga foi muito mais rápida do que calculei, mas preciso segurar vocês por mais algum tempo, só preciso ter as cartas certas na mão…

O asiático se move rapidamente para seu lado, assim como o ruivo que se volta da forma gelatinosa que fora espalhada pelo chão.

Se levantando com dificuldades, Carlos não enxergava nada apenas borrões das luzes do local e apesar do som estar abafado para ele ainda era possível reconhecer a banda tocando, ainda cambaleante e se auxiliando com seu tato Carlos encontra uma cadeira pra se sentar.

Aos poucos sua visão vai voltando, ele vê seus amigos dando uma surra nos badernistas, as pessoas fugindo do bar e o incêndio se extinguindo com um encanamento que por sorte se estourou, e quando seus sentidos voltam ao normal, Carlos sente um liquido escorrendo sobre sua boca, e ele sente o gosto de...

-SANGUE?!?!

Desesperado ele passa a mão no rosto sujando suas mãos de sangue, em seguida passa a mão em cima do nariz e sente uma leve dor, então decide aperta-lo.

-AHHHHHHHH! Aquele japa filho da puta quebrou meu nariz, eu vou arrancar todos os dentes da boca dele!

Quando a banda para de tocar um homem com vestes formais demais para aquele lugar, se revela, ele começa a falar com o grupo, com um sotaque europeu, mas Carlos só conseguia olhar para o asiático que se aproximava rapidamente do homem junto com os outros dois, enquanto Carlos se aproximava de seus amigos.

-Eu não saio daqui hoje enquanto não quebrar a cara esse pessoal, principalmente o japa.

Carlos cria uma armadura semelhante a das forças especiais, porem mais compacta para mobilidade e com o capacete parecido com o seu habitual de missões, e um par de tonfas pra usar como armas.

Davi, mesmo cansado, se sentia aliviado. Havia conseguido extinguir o incêndio com seu plano, mas deixara o asiático escapar. Ele olha ao redor, observando o resultado daquela confusão. Destruição e pessoas caídas por uma briga desnecessária e sem sentido. Chegou a se perguntar pela terceira vez o que estava fazendo ali.

Seus pensamentos foram cortados pela voz de um homem com sotaque carregado. Ele olha para um dos cantos e visualiza o homem com suas vestes finas. Ouve atentamente o discurso elaborado, enquanto se afasta cada vez mais, se encostando na parede o mais longe possível.

Enquanto o homem falava, Davi se preparava para a briga que viria a seguir, mas agora com um sorriso no rosto, porque sabia que ela não era apenas uma briga de bar, alguma coisa estava acontecendo, e ele queria saber o que.

O garoto pegou novamente pedaços de madeira para servir como armas. Assim que começasse a ação, iria desaparecer, atravessando a parede com sua intangibilidade. Pretendia resurgir atrás do homem com as cartas, ou prendendo ele ou tentando derrubar o mais rápido possível, com um golpe na nuca.

Mas o mais importante para Davi seria descobrir que quais os planos daquele homem para o grupo. Por isso, tentaria a todo custo conseguir uma das cartas do homem e usar seus poderes de percepção extra-sensorial para tentar descobrir alguma coisa.

Essa até que foi fácil.... 
- Pensa Ed olhando a mulher de moicano debruçada em cima de algumas mesas.

O grandalhão rapidamente tem seus pensamentos cortados pelo diálogo de um homem totalmente estranho pra aquele ambiente. Um homem bem vestido, de terno e óculos, elegante demais até mesmo para algum empresário ou dono de gravadora procurando talentos musicais naquele bar.

O sujeito se levanta de sua cadeira e passa a falar com os membros da Força Heroica, um silencio toma conta do lugar. A voz do homem, com forte sotaque europeu era a único som naquele momento.

Ele caminha sutilmente se aproximando dos heróis. Em suas mãos uma espécie de baralho ou algo do tipo. Ele fala algumas coisas, talvez sem muito sentido. Mas Ed acredita naquele momento que ele estava por trás daquele grupo de super seres que os atacou a poucos minutos.

-Ae gringo qual é a tua? Ninguém aqui ta pra brincadeira, e muito menos jogar cartinha de yugioh com você... É melhor se explicar direito ou, já sabe! 

Ed aponta para os inimigos caídos no bar na intenção de intimidar o homem, ou ao menos arrancar alguma informação dele que sirva de vantagem para o grupo.

Nova coloca o joelho no torso do inimigo meta-humano, dando mais dois socos mesmo após já ter derrubado o oponente, ainda bastante irritada. Ela continuaria a dar golpes no grandalhão, não fosse o incêndio que se extingue ao seu redor e o homem que aparece, falando coisas meio ao silêncio.

A esse ponto, Nova havia se esquecido dos seus companheiros, ou até mesmo das pessoas que lotavam o lugar a pouco tempo atrás. Os gases luminosos que apareciam há pouco haviam sumido junto do fogo, mas ela ainda tinha vontade de extravasar a raiva acumulada dentro de si mesma.

Ignorando as palavras trocadas entre quem quer que fosse, Nova se levanta, levantando também o corpo desfalecido do grandalhão acima da cabeça, jogando-o contra os três homens, partindo pra cima de quem quer que estivesse na sua frente pra bater.

Nu, Tiago apanha rapidamente qualquer coisa que cobrisse suas genitálias. Ele olha envergonhado para a equipe mas rapidamente se abaixa e coloca as mãos nos pisos do Porão, cobrindo todo o seu corpo, parecendo uma estátua entalhada em madeira.

Largou o avental no chão, e se ergueu olhando fixamente para os que permaneciam de pé. Estava irritado, os últimos meses no Instituto e os acontecimentos haviam mudado e muito o modo de pensar de Tiago, e aquilo fedia Chinera Corp. - Ótimo, nenhum plano de ação... - apontou seu braço em direção para o homem gelatina, formando uma estaca longa e afiada.

Morfo partiria em direção do ruivo e entraria em conflito mais uma vez com o adversário, tentando o dilacerar quando assumisse a forma verde. Com êxito, tentaria ajudar os outros se precisassem de ajuda, tornando metal outra vez se necessário.

A luta prossegue. O corpo do gigante derrotado por Nova voa pelo salão, o velocista some levando consigo seu empregador estrangeiro. O ruivo recebe sozinho o impacto, mas logo retorna como se nada tivesse acontecido.

Tiago em forma de madeira, parte para cima do ruivo, fincando o braço em forma de estaca no peito do adversário que apenas sorri balançando a cabeça em sinal negativo. Um chute de Nova transpassa o pescoço do ruivo arrancando a cabeça do mesmo, que ao cair no chão se espalha em forma gelatinosa.

Uma nova cabeça cresce na região do ombro, olhando para sua adversária. Morfo e Nova desferem vários golpes ruivo, que a cada golpe, perde mais e mais de seu material.

O estrangeiro ri de longe, ele está no palco, sozinho. Tubarão leva um soco nas costelas, mas nada sente, o asiático não é forte o bastante para lhe causar dor. Ao tentar um contra ataque o adversário some. Carlos tenta golpear o vulto em velocidade, mas erra o ataque. Sua armadura é eficaz e ele não sente nenhum dos contra-ataques.

Tubarão e Arsenal ficam de costas um para o outro, desferindo golpes no ar tentando acertar o asiático que luta com os dois ao mesmo tempo.

- Eu posso ver você, Davi.

O estrangeiro fala sozinho e da um passo para o lado, desviando do golpe invisível disparado por Espectro.

- Mas você não pode me ver.

Ele olha diretamente para Davi que volta a sua forma visível, ele está de frente ao estrangeiro segurando duas madeiras, substituindo seus bastões.

- É uma técnica antiga, utilizada pelos mais sábias de minha raça. Chama-se “Coração de Pedra”. Ela deixa nossa fonte de… qual a palavra em sua língua?.. Deixa nossa fonte de “magia” escondida aos olhos dos demais.

- Mas se preferir posso o abrir meu coração a você, pequeno Davi.

Davi, observa as asas petrificadas se abrindo no plano astral, o estrangeiro com certeza, era um gárgula. Ele ficara surpreso por não conseguir sentir a presença de uma criatura assim no bar.

A luta no salão prosseguia, sem nenhum vencedor, todos já apresentavam sinais de fraqueza.

- Nós não precisamos lutar Davi, eu não gosta de violência, é algo primitivo demais que nossas raças compartilham. Que me diga o jovem Grael, o preferido.

Ele para um instante e volta a falar.

- Você joga cartas?

Davi não entende, mas pensa ser uma ótima oportunidade para derrotar o estrangeiro. E com um aceno de cabeça, ele baixa seus bastões improvisados, aguardando a melhor hora para o ataque.

- Óh, um momento.

O estrangeiro faz sinal de espera para Davi e pega em seu terno um telefone celular. Ele atende e depois de ouvir, responde.

- Ok. Yes, I'll be there in 10 minutes.

Ele desliga e se volta para Davi.

- Infelizmente terá de ser outro dia, já temos tempo o suficiente. Aqui, uma lembrança.

Ele joga uma carta, que Espectro agarra no impulso. Ao olhar novamente para o estrangeiro, ele não está mais lá. O asiático também sumira, deixando Tubarão e Arsenal confusos. O ruivo percebendo ser o último no local, foge pelo encanamento, deixando para trás o rastro de sua matéria.

A Força Heroica se encontra sozinha no bar, meio a grande bagunça. Do palco Davi olha os demais e mostra para si a carta deixada. Uma carta de Tarot, com uma ilustração de aparência ancestral, na parte inferior da carta, escrito em letras caligrafadas: “La Lune”.