- Perfil Genérico
Contos Arcanos
22/08/12, 08:45 pm
- Capítulo 1 - O Despertar:
- Em uma tarde ensolarada de São Paulo, as pessoas lutavam espremidas no metrô para irem ao trabalho. Entre elas, um jovem encontrava-se distraído com sua música, os fones de ouvido eram um escudo que o protegiam da loucura do mundo moderno. Este jovem era eu,e meu nome era Ricardo Andrade, estudante do primeiro ano de Física. Eu estudava de tarde, e então, estava indo para o centro de São Paulo, para comprar alguns livros antes de ir para a faculdade.
Se eu tinha algum vício, este era pela leitura. Eu adorava ler, passava minhas tardes do fim de semana foleando os mais diversos livros, gostava de todos, mas tinha uma preferência por histórias de fantasia medieval. Após desembarcar na Sé, sigo para fora da estação de metrô, e vou para as ruas sujas e parcialmente abandonadas do centro. Para pessoas de fora, parecia improvável que alguém poderia encontrar alguma livraria naquelas ruas imundas, mas os moradores de São Paulo sabiam que elas estavam abarrotadas de sebos, lojas especializadas em livros usados e antigos. Eu entro em um sebo pequeno e estreito, o cheiro de mofo e de páginas velhas inunda minhas narinas.
- Oi - Digo ao dono da loja, e sem esperar resposta, siso para as prateleiras mais ao fundo, onde ficavam os livros de fantasia. Eu procuro algum livro de meu interesse, e quase uma hora depois de tanto folear,acabo por escolher quatro deles. Após pagar o dono da loja, sigo em direção ao Shopping Lite para almoçar, porém, esbarro alguém ainda na rua, e a sacola com os livros que eu comprava vai ao chão. Eu me abaixo para recolher os livros, mas dois deles já tinham sido pegos. Olha para cima e percebo que eu esbarrara em um velho senhor de terno cinza. Ele tinha os cabelos brancos e olhos pretos, a pele era enrugada, mas um sorriso alegrava seu rosto a muito gasto.
- Me desculpe, meu jovem, não olhei por onde andava, aqui estão os seus livros - Dizia o velho, entregando a mim os livros que faltavam.
- Obrig - Começo, mas ao olhar novamente após ter guardado os livros na sacola, o velho sumira.
Naquela noite, após a faculdade, eu acabava de me vestir após o banho e apanhara a sacola onde estavam os livros que comprara aquela manhã, eu pego os quatro livros e vou até a cama, onde me sento encostando as costas na cabeceira. Olho os livros um a um, tentando escolher qual iria ler primeiro, mas um deles em particular chama minha atenção.
De aspecto velho, com capa de couro e páginas desprendendo, eu observo com curiosidade um livro muito antigo e sem título, eu não me lembrava de telo comprado. Então, me lembro de ter trombado com o velho, e penso que o senhor poderia ter trocado os livros por engano. Então, sou tomado pela curiosidade e acabo por abrir o livro, as primeiras páginas estavam em branco, ou melhor, sem nada escrito, pois branco era uma cor que aquele livro não conheciam a muito tempo. Começo a folear o livro, as páginas estavam rígidas e secas, parecia que iriam esfarelar em minhas mãos.
Após passar mais de vinte páginas vazias, eu finalmente encontro uma que estava escrita, mas não estava em nenhum idioma que eu conhecia.
A escrita era composta por símbolos estranhos, levemente desenhados e de traços finos, eu nunca tinha visto nada igual.
Na primeira linha, estava escrito:
"O ar era fresco e calmo, e nele viajavam vários aromas doces e de "tonalidades" diferentes, pois eu podia "ver" as cores dançando em espirais coloridas, entrelaçando-se como fumaças das mais diversas e distintas cores. A grama verde sob meus pés se estendia pela eternidade, forrando mundo com seu tapete macio, o céu, de um azul limpo, sem nuvens, parecia um lençol que a tudo cobria, as árvores ao redor formavam uma floresta enquanto os picos se fundiam em montanhas no horizonte, e neste momento, uma voz me chama, as minhas costas:
- Olá Aldryck - Diz a voz gentil e amigável, e eu imediatamente me lembro de um velho, perdido no tempo. Não me recordo muito bem dele, mas sabia que ele se encontrava em algum lugar de minha memória, talvez tenha cruzado meu caminho a centenas de anos atrás, eu me viro de costas, e o encaro.
- Olá - Respondo, e percebo que a pessoa às minhas costas era realmente um velho, mas algo chama minha atenção, ele me chamou "Aldryck", Aldryck? Que nome mais esquisito era esse!? Meu nome era Ricardo, pelo o que me lembrava. Então, pergunto - Porque me chamou de Aldryck? Meu nome é Ricardo.
- Talvez em seu mundo - Responde o velho -, ou melhor, em sua realidade, pois este mundo, apesar de você não o conhecer, também é seu, e aqui, você se chama Aldryck, e entre nós, seu nome também é Aldryck.
- Não entendo - Digo, tentando forçar meu cérebro a compreender tudo aquilo, não me lembrava de como tinha parado ali, aliás, não me lembrava de quase nada, só de meu nome, Ricardo, e por algum motivo, nada importava, eu não estava preocupado, mas um sentimento tomava conta de meu corpo. Como nunca antes, a curiosidade parecia ser meu combustível, parecia que era ela que fazia meu coração bater, meu sangue circular, me fazia respirar, e então, eu perguntei ao velho:
- Quem é você? E onde estou?
- Meu nome não é de sua conta, pois algumas coisas devem ser descobertas por conta própria, mas posso lhe contar quem sou. - Ele responde, me encarando com um rosto feliz, parecia se divertir com aquilo, ele começou a andar devagar, olhando as árvores, os pássaros, e agora, eu também os notara, uma variedade incrível de pássaros de todas os cores, pássaros que eu nunca tinha visto antes, de cores viras e exóticas -, sou seu Avatar, sua inspiração mágica, sua ligação entre o mundano e o místico, sua magia em forma bruta. - Ele responde, e isso só me confunde ainda mais.
- Magia? Avatar? Do que esta falando? - Pergunto a ele, eu queria saber mais.
- Nem tudo devo lhe responder, pois meu caminho é te guiar e não te educar - Ele diz -, você é um bruxo, e faz parte do mundo mágico.
- Bruxo? - Pergunto, e por alguma insanidade, aquilo não me parecia errado, não sabia explicar o porque, mas fazia todo o sentido do mundo, por algum motivo que até eu desconhecia.
- Sim, um bruxo - Ele responde com naturalidade -, mas nem sempre foi, você despertou a pouco tempo, quando leu o Grimório.
- Grimório? - Pergunto, ele estava se referindo ao livro? O livro! Eu estava lendo um livro minutos atrás, ou seriam dias, anos? Eu não tinha noção do tempo e espaço naquele local.
- Sim, um livro com instruções mágicas, cheio de feitiços, o diário de um mago antigo. - Diz ele - Irei explicar da forma mais simples possível, pois o assunto é de difícil entendimento.
O universo é regido por uma música, uma música que controla cada evento. Esta música é chamada de magia, e dela, vem os magos, feiticeiros, bruxas e seres místicos. Todos somos filhos da magia, mas nem todos herdamos seu poder. Aqueles que os herdam, como você e eu, somos diferentes. Você é humano, e nasceu com o poder de mudar as notas desta música, este é o papel de um bruxo, ser um dos inúmeros maestros, você tem em suas mãos, a capacidade de distorcer a realidade, de sobrepor a sua vontade sobre tudo e todos, dependendo do seu esforço, conhecimento e força de vontade. Eu, sou seu avatar, eu sou a entidade mística que te liga com o mundo mágico, sou como uma ponte, você precisa de mim para ter acesso a magia. Mas as leis universais são claras, eu posso interferir até certo ponto em sua jornada pelo poder, e cheguei ao fim de minha possibilidade, de agora em diante, você trilhará seu rumo, sozinho, em busca de seu destino. Não cabe a mim ler as linhas do destino, mas cabe a mim lhe dizer que nada é por acaso, e tudo pode ser alterado. Você não recebeu este livro por sorte, mas o motivo pelo o qual o recebeu, você mesmo irá descobrir.
E o ar calmo contorna meu corpo novamente, sinto o som das folhas balançando, da grama inclinando, ouço o som de uma música ao fundo, bem baixinho, uma música misteriosa, e naquele momento eu soube, que eu estava ouvindo o som da magia."
Abro meus olhos e encaro o ventilador do teto rodando, olho em volta e percebo me encontrar deitado em minha cama, de volta para meu quarto, sobre minha barriga, jaz o livro de capa de couro antigo, eu o abro e volto a enxergar os mesmos símbolos estranhos de antes, mas desta vez, nada acontece. Teria eu sonhado com tudo isso? Talvez isso seria verdade, se meu quarto não estivesse folhas verdes, caídas e espalhadas pelos móveis.
Sintam-se a vontade para comentar, seja críticas ou elogios. É a primeira vez que faço algo do gênero, e não sei se me sai muito bem, mas prometo melhorar na próxima ;D
- Barata
Re: Contos Arcanos
23/08/12, 04:37 pm
Curti Yudi! Ficou dahora mano, esse lance de Grimório e Avatar ficou maneiro e a "metáfora da música" foi um lance bem legal. Vou acompanhar.
- Sombria
Re: Contos Arcanos
24/08/12, 12:34 pm
Opa, gostei pra caramba do primeiro capítulo, a narração é ótima e apesar do tamanho pequeno (pra mim, que escrevo testamentos), o texto se fecha de maneira coerente. Enfim, foda manolo, como o Lobo falou ali, o negócio da metáfora da música realmente foi legal pra caramba, no aguardo do capitulo 2.
- Cromático
Re: Contos Arcanos
02/09/12, 05:26 pm
Lobo escreveu:Curti Yudi! Ficou dahora mano, esse lance de Grimório e Avatar ficou maneiro e a "metáfora da música" foi um lance bem legal. Vou acompanhar.
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